terça-feira, 18 de novembro de 2014

Anquiloglossia - "freio de língua" curto

O que é freio sublingual?

O freio sublingual se define como uma membrana mucosa situada abaixo da língua. Se dificulta ou impede o movimento normal desta, afirma-se que há anquiloglossia ou freio sublingual curto.

O freio sublingual encontra-se na parte de baixo da língua. Forma parte da mucosa oral, encontra-se pouco vascularizado e inervado, por isso, se é necessário cortá-lo, oferece pouca resistência, apenas sangra e não dói.

O freio de língua pode ser flexível ou inflexível, de tecido mole ou fibroso, longo ou curto, o que influenciará no grau de restrição dos movimentos linguais. Mesmo assim, o ponto de inserção do freio na língua pode variar  consideravelmente (posterior ou anterior).

Por que parece que atualmente há tantos bebês com freio de língua curto?

Antigamente se diagnosticava e remediava a anquiloglossia quando o bebê acabava de nascer, e durante séculos as matronas (parteiras) se encarregavam de cortá-la, mas na metade do século XX a lactância materna perdeu popularidade e a frenotomia de rotina deixou de ser habitual, pois quando havia dificuldades a solução era suspender a amamentação e iniciar a administração do leite artificial.

Já no século XXI, com a consciência da superioridade da amamentação e o aumento do interesse por tudo que está relacionado com ela, o tema do freio sublingual voltou à atualidade, assim como a busca de soluções para ele.

É tão importante?

A mobilidade da língua é de vital importância para o bom início da amamentação e para que esta se torne prazerosa para a mãe e efetiva para o bebê.

Pode ocorrer que o bebê tenha freio sublingual curto, mas que esta circunstância não cause problemas nem para ele, nem para a mãe, devido a capacidade de adaptação do peito materno e da própria fisiologia da glândula mamária. Se um bebê cresce e aumenta de peso corretamente, e sua mãe tampouco sente dor ao amamentar, não é necessário realizar intervenção alguma, salvo que se queiram prevenir outros possíveis problemas futuros (ressaltamos que a língua não é só importante para mamar, mas também que influencia de maneira decisiva o desenvolvimento de toda a cavidade oral, o que repercute na dentição, na fala, na respiração e pode inclusive determinar a propensão de sofrer problemas como otites, sinusites, etc)

Os bebês devem realizar uma complexa coreografia com a língua para:
--obter uma boa e efetiva transferência do leite
--não ferir o mamilo.

Há quatro movimentos principais que a língua do bebê deve realizar:

Extensão: ação de estender a língua até cobrir a gengiva inferior com ela e mantê-la nessa postura enquanto dura a mamada.

Elevação: ação de levantar a língua até o palato para comprimir a aréola e poder assim ordenhar o peito.

Lateralização: a habilidade de mover a língua a ambos os lados da boca.

Peristaltismo: movimento ondulante da língua que permite levar o leite até a faringe para ser deglutido.

A anquiloglossia pode impedir ou restringir estes movimentos, dificultando ou impossibilitando uma boa pega do bebê ao peito, o que por sua vez pode fazer com que a transferência do leite seja insuficiente. O bebê com anquiloglossia realiza movimentos compensatórios de sucção para evitar que o mamilo lhe escape da boca (um dos mais habituais é comprimir o mamilo com a gengiva inferior) que por sua vez, provoca traumatismos de grau variável na mama.

Que problemas pode ocasionar o freio de língua?

Na maioria dos casos, a anquiloglossia prejudica tanta a mãe como o bebê.
Para a mãe, o maior inconveniente de dar de mamar a um bebê com freio sublingual curto é a dor: se produzem fissuras pela fricção a que se submete o mamilo, infecções bacterianas causadas pela má drenagem dos condutos e favorecidas pela presença das fissuras, isquemias pela compressão do mamilo contra o palato. Tudo isso faz com que a experiência de dar o peito se torne dolorosa e desagradável.

Não todas as glândulas mamárias reagem do mesmo modo a uma sucção ineficiente. Há casos em que a mãe sofre a falta de leite - hipogalactia - e até que se corte o freio ou se estimule a produção (com uso de uma bomba, por exemplo) a quantidade do leite produzida é insuficiente.

Do outro lado, existem mães cujas glândulas mamárias parecem querer compensar o problema disparando a produção, o que faz que padeçam ingurgitações constantes e subidas de leite entre mamadas.

Além disso, as mamadas podem ser intermináveis, uma vez que os bebês com anquiloglossia não soltam o peito por si mesmos e costumam mostrar-se chorões e irritáveis. A mãe se sente cansada e frustrada, o que pode produzir um abandono precoce da amamentação, inclusive por parte de mães muito motivadas.

Em outras ocasiões, a sucção não é dolorosa, mas é ineficiente. Para a mãe isto causa frustração, já que o bebê mama aparentemente bem mas se mostra muito demandante e não ganha  peso suficiente. Estas mães podem chegar a pensar que o seu leite não é bom ou que não são capazes de produzir suficiente quantidade, quando na realidade o problema é outro.

Para os bebês, as consequências de um freio curto podem variar muito e ainda que a curto prazo podem afetar negativamente a amamentação, a médio e longo prazo causam também outros transtornos.

Existem bebês com anquiloglossia que não aumentam de peso devido à sucção ineficiente, que se traduz numa escassa produção de leite. Outros aumentam com normalidade ou de maneira espetacular.

A glândula mamária atua às vezes de forma compensatória. Diante de um bebê que mama de forma ineficiente ou caótica, pode reagir fabricando muito leite e dando lugar a uma produção excessiva - hipergalactia. Quando isso ocorrer, os bebês tomam muito leite do início, mais rico em lactose, o que lhe faz difícil de digerir e pode dar lugar a decomposições verdes, que cheiram mal e “explosivas”, muito diferente das decomposições típicas do bebê amamentado, que são de cor mostarda e com um cheiro doce que recorda ao do iogurte.

Este excesso de lactose também os faz mais propensos a sofrer regurgitação, pois devem mamar mais volume de leite para obter as mesmas calorias que receberiam se mamassem de forma eficiente, e dores intestinais (gases, cólicas).

Ao nascer, todos os bebês têm um palato alto e fechado, mas à medida que a língua se move de forma eficiente na cavidade oral, este vai se abrindo e descendendo. Se a língua não tem capacidade de elevação devido a um freio curto, esta mudança não se produz, o que afeta a toda a estrutura maxilofacial.

O palato ao ficar mais elevado, as “coanas” (aberturas posteriores das fossas nasais) vêem reduzidos seus diâmetros, o que faz que os bebês com freio curto respirem mais pela boca que pelo nariz, dormem com a boca aberta e ronquem durante o sono. Os problemas respiratórios se devem a entrada de ar nos pulmões diretamente pela boca. Esse ar não é filtrado pelas fossas nasais, o que facilita a entrada de partículas nocivas. E é mais frio, o que lhe predispõe a sofrer bronquites e pneumonias. Também são propensos a sofrer otites, devido a uma mal drenagem da trompa de Eustáquio. Também existem estudos que relacionam a anquiloglossia com uma maior incidência das apneias do sono.

A mal conclusão dental é outro problema derivado da anquiloglossia e se manifesta quando começam a sair os dentes. Estes podem nascer fora do lugar ou encavalar-se, o que unido à deformação do palato pode requerer custosas intervenções odontológicas.

Quando os bebês com anquiloglossia crescem, surgem problemas logopedagógicos (dislexia ou transtornos de articulação fonética) na pronunciação das consoantes /r/, /rr/, /l/, /t/, /d/, /n/, /s/ y /z/.

Por último, a anquiloglossia é responsável por problemas do tipo social que não deixam de afetar a qualidade de vida de quem sofre com eles: as pessoas com freio curto não podem fazer coisas tão simples como lamber um sorvete ou beijar com a língua.

Como se diagnostica a anquiloglossia?

Se deve avaliar o grau da mobilidade da língua, incluída a capacidade da mesma para extender-se mais “além” do lábio inferior, elevar-se até o palato superior com a boca bem aberta e efetuar movimentos transversais de um lado da boca a outro sem necessidade de deformar-se (lateralização). A elevação parece ser o movimento lingual que mais influencia na amamentação, por isso deveria pesar mais que os demais parâmetros na hora de avaliar a anquiloglossia

A grosso modo, podemos dizer que existem dois grande grupos diferenciados: os freios de língua anteriores e os posteriores. Os primeiros, que representam 75% da incidência de anquiloglossia. Se observam a simples vista e são fáceis de diagnosticar e tratar mediante frenotomia. Os segundos, podem passar inadvertidos e requerem uma intervenção mais complexa denominada frenuloplastia.

Freios de língua anteriores
Tipo 1: A língua tem forma de coração e apresenta uma funcionalidade muito restringida. O freio que se insere na ponta da língua, se observa a simples vista.


Tipo 2: O freio se insere mais atrás que no tipo 1, a uma distância de entre 2 e 4 mm referente à ponta da língua. Também pode restringir consideravelmente a elevação e extensão da língua, que se apresenta plana ou ligeiramente torcida.

Freios posteriores
Tipo 3: Este tipo de freio poderia definir-se como uma combinação dos tipos 2 e 4, uma vez que existe uma pequena membrana visível na parte posterior da língua mas também uma “ancoragem” submucosa, por isso não é suficiente cortar a membrana para liberar a língua da parte inferior da boca. Este tipo de freio pode ser difícil de observar à simples vista, mas basta passar um dedo de lado a lado abaixo da língua do bebê em repouso para notar sua presença.

A língua pode apresentar um aspecto normal e realizar o movimento de extensão com relativa facilidade, mas ao fazê-lo se torcerá para a periferia e se deprimirá no centro e o bebê não poderá elevá-la até tocar o palato com a boca totalmente aberta. Em função da espessura e fibrosidade do componente submucoso, a língua também pode apresentar um aspecto “como se fosse bola” e compacto.


Tipo 4 ou freio de língua oculto: o freio como tal não se visualiza a simples vista, já que se encontra oculto abaixo de uma camada de tecido mucoso, e restringe quase totalmente a mobilidade da língua, pois esta se encontra muito “agarrada” à parte inferior da boca e pode apresentar um aspecto compacto. O movimento da língua pode ser assimétrico. Às vezes, se vê um palato ogival ou estreito, a consequência direta da escassa mobilidade da língua.

Que são os movimentos compensatórios?
São recursos que desenvolvem os bebês para conseguirem mamar e escapar das dificuldades que lhes causam o freio curto:

-- Pressionam o peito exercendo uma pressão excessiva com os lábios, o que lhes causa feridas labiais, sobretudo no lábio superior.

-- Comprimem a gengiva contra o mamilo e causam traumatismos e mal drenagem, o que por sua vez favorece o aparecimento de infecções.

-- Mamam abrindo pouco a boca para evitar que o mamilo lhes escape, o que causa má transferência de leite e má drenagem da mama, que pode ocasionar dor e infecções à mãe. (mastites)


Que fazer quando há problemas com a amamentação e o bebê é diagnosticado com anquiloglossia?

Dependerá de cada família. Algumas decidirão rapidamente realizar uma intervenção cirúrgica (frenotomia ou frenuloplastia) para solucionar as dificuldades com a amamentação e prevenir possíveis problemas futuros, enquanto que outras preferirão não intervir e buscar alternativas. Também haverá quem prefira provar medidas paliativas antes de decidir-se por uma intervenção cirúrgica.

Há outros soluções para manter a amamentação sem ter que realizar uma frenotomia?

O primeiro é tentar otimizar a colocação do bebê ao peito, de tal modo que grande parte da aréola entre dentro da boca deste, facilitando assim a transferência do leite e evitando à mãe a dor causada pela pressão que realizam as gengivas.

Segurar o peito com a mão em forma de C ajuda a controlar a mandíbula do bebê. A postura “cavalinho”, na que o bebê mama sentado sobre a coxa da mãe, pode contribuir para minimizar as moléstias desta e a fazer mais efetivas as mamadas.

Também há bebês que encontram uma postura efetiva quando lhes deixa buscar e pegar o peito de forma espontânea, sem dirigir nem controlar seus movimentos. É o que se conhece como pega espontânea.

No caso dos bebês com escasso ganho de peso, há que iniciar complementação e se for possível, com leite materno.

Se existe hipogalactia associada, há que estimular a produção do leite utilizando uma boa bomba.
Em todos os casos, é muito recomendável praticar a compressão mamária, para encurtar as mamadas dolorosas e fazê-las mais efetivas.

Que é e como se faz uma frenotomia?

Se trata do procedimento cirúrgico pelo que se corta o freio sublingual. É uma técnica simples que se realiza em poucos segundos. Há cirurgiões que optam por aplicar anestesia tópica antes de fazer uma frenotomia, mas na maioria dos casos não é necessário, devido que, como comentado anteriormente, é uma zona pouco inervada e que tem pouca sensibilidade.

Antes de proceder ao corte, o cirurgião elevará a língua do bebê com um retrator acanalado que lhe permitirá visualizar o freio. O corte se faz com tesouras cirúrgicas.

As vezes se produz um rápido sangramento sem maior importância, que se detém simplesmente comprimindo a região com uma gaze. Uma vez realizada a frenotomia, o bebê é colocado no peito para mamar.

Convêm advertir que a frenotomia pode não solucionar de imediato os problemas da amamentação. Apesar de que a maioria das mães notam uma melhora instantânea, em outros casos, pode ser necessário realizar exercícios específicos de fisioterapia da sucção e ter paciência até que o bebê aprenda a mamar movendo a língua de maneira correta.

Nos casos dos freios posteriores. Tipos 3 e 4, a frenotomia pode não ser suficiente, devido que há que liberar a língua totalmente do solo da boca. As intervenções que se realizam neste caso se denominam frenuloplastias ou z-plastias.
Estes procedimentos são algo mais complexo que as frenotomias, não se podem realizar de forma ambulatória e requerem anestesia ou sedação, por isso devem ser realizados por cirurgiões.

Fonte: http://www.albalactanciamaterna.org/lactancia/frenillo-lingual-corto-anquiloglosia
Tradução: Sandra C. P.

Publicado originalmente no GVA do Orkut ,em 08/02/2011

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