Por:Tracy G. Cassels
Tradução e adaptação: Gabriela de O. M. da Silva
Link para o original: http://evolutionaryparenting.com/transition-to-a-new-caregiver/
Uma
das coisas mais difíceis para os pais fazerem é deixar o bebê nas mãos
de outra pessoa. Mesmo quando esse outro, é alguém da família. Separar-se
do bebê, pela razão que for, pode ser muito difícil, e quando o tempo
de separação precisa ser longo (um dia de trabalho, por exemplo), fica
mais complicado ainda. Uma parte disso vem do fato de ser muito comum
ouvirmos histórias de bebês que começam a gritar, chorando, assim que os
pais saem. Ao final do dia descobre-se que passaram horas gritando, até
finalmente desistirem. Os cuidadores sempre afirmam que é comum e vai
passar, mas muitos de nós temos a preocupação com o que vai acontecer
com a confiança que nossos filhos depositam em nós. Algumas crianças se
adaptam rapidamente, sem muitos problemas, mas outros sofrem bastante e
nós, enquanto pais, pressentimos o que vai acontecer antes mesmo de
começarem esses períodos de separação. E isso pode gerar muito estresse
para nós e nossos filhos.
Mas o que podemos fazer? Vou
indicar quatro passos que os pais podem seguir a fim de ajudar na
adaptação dos bebês a um novo cuidador. [Estas sugestões podem não
funcionar para todos, especialmente se o bebê está passando por uma fase
forte de ansiedade da separação, então nesse caso cabe a cada família
decidir como levar em conta suas necessidades e as necessidades do
bebê.] Os passos partem do pressuposto de que você vai ter um cuidador
em casa ou encontrou uma creche que permite sua presença por uma boa
quantidade de horas durante algumas semanas, ajudando na adaptação. Nem
todas as creches permitem isso(infelizmente). Se você tem uma criança
que reage bastante às separações, seria bom ter isso como critério na
hora de escolher a creche, se possível.
1º passo:Todos juntos
Um
dos passos mais importantes para que sua criança sinta-se confortável é
garantir que haverá uma exposição ao novo cuidador, estando você junto
com ela. Conforme essa nova pessoa se torna uma presença constante na
vida do bebê, ele tem mais chances de sentir-se confortável sob os
cuidados dela quando você estiver ausente.
Obviamente,o
tempo que demora para que isso ocorra varia de uma criança para outra,
então quanto mais cedo começarem, melhor. A alimentação é uma das formas
que você pode usar para ajudar nessa transição, principalmente se o
cuidador vai alimentar o bebê na sua ausência. Se você amamenta e vai
deixar leite materno ordenhado, você pode observar como o bebê reage ao
ser alimentado pelo cuidador, mesmo que para isso você comece
segurando-o no seu colo, e o cuidador oferecendo o leite (ou
vice-versa).
Outras dicas que ajudam: ter a presença do cuidador
enquanto você troca a roupa ou a fralda do bebê, e tentar que essa
pessoa faça a troca por algumas vezes na sua presença; deixar que o
cuidador o segure no colo enquanto você estiver por perto pelo tempo que
o bebê permitir; e deixar que o cuidador tente acalmar seu bebê no
próprio colo, apenas ouvindo sua voz, antes de devolvê-lo imediatamente
para os seus braços.
2º passo: Separações rápidas até o cômodo ao lado
O
próximo passo é tentar separações breves, de forma que seu bebê consiga
escutar o som da sua voz explicando que está apenas indo ao cômodo ao
lado e já vai voltar.Você pode ir aos poucos aumentando o tempo que
permanece fora do campo de visão dele, mas sempre retorne assim que ele
chamar por você. Comece com cinco minutos (ou menos, se necessário), e
tente deixar a criança com o novo cuidador(em cuja presença ela já deve
estar se sentindo confortável a essa altura),enquanto você sai do
ambiente. Se em algum momento a criança chamar por você,volte
imediatamente para confortá-la, e só tente repetir depois de um tempo
(pelo menos meia hora) a separação. Vá aumentando os intervalos de tempo
no ritmo que for mais confortável para você e o bebê, mas não aumente
muito mais que 5 minutos a cada dia.
Além disso, você
pode também começar a aumentar o tempo que demora para retornar quando a
criança se mostra chateada. Nos primeiros dias, retorne
imediatamente.Seu filho precisa acreditar fortemente que você sempre vai
retornar para ficar com ele. Contudo, assim que começar a aumentar o
tempo que fica no outro cômodo, você pode também aguardar um minuto para
ver se o cuidador consegue acalmá-lo sem a sua presença. Contudo, não
demore mais que alguns minutos, pois isso pode tornar negativa para o
bebê a experiência de ficar com o cuidador, e assim tornar mais difícil o
processo de criação de vínculo afetivo entre eles. Recomendo anotar o
tempo que você consegue se distanciar. E tenha em mente que vão
acontecer altos e baixos durante a adaptação, por isso não se assuste.
Não é porque em um dia seu filho conseguiu ficar 10 minutos longe, e no
dia seguinte apenas 5, que você vai pensar que não estão fazendo
progressos, é apenas um solavanco na estrada.
3º passo: Separações rápidas, saindo de casa
Assim
que você conseguir ficar longe por 30 minutos sem que seu filho o chame
de volta,pode começar a sair de casa (ou permitir que a criança e o
cuidador saiam para dar um volta, se for o caso do cuidador ser uma babá
ou membro da família). Isso quer dizer que não conseguirá retornar
imediatamente no caso da criança ficar triste e chamar por você.
Explique isso a ele(a). Não importa o quão novinhos sejam, se você criar
o hábito de explicar esse tipo de coisa desde cedo, vai ser bastante
útil mais adiante, e se seu filho já puder entender mesmo que
parcialmente, já vai ajudar. Algumas crianças irão se sentir melhor com
um novo cuidador em um ambiente diferente, enquanto outras preferirão
permanecer no mesmo ambiente (em casa, por exemplo). Você precisa saber
como seu filho reage e fazer os arranjos adequados às necessidades
dele(a) se for possível.
Mais uma vez, você vai aos
poucos aumentando o tempo de separação, começando com os 30 minutos que
vocês já conseguiam ficar longe dentro de casa. Isso permite ao novo
cuidador ter tempo para acalmar acriança no caso de ficar chateada ou
começar a chorar. Recomendo sempre que você esteja com um telefone à mão
para conseguir ser alcançado. Se o bebê começar a ficar histérico, é
melhor dirigir-se diretamente a ele: deixe que o cuidador coloque seu
filho no telefone para que você possa explicar que está voltando
imediatamente. Se isso acontecer, não tente sair novamente naquele dia,
deixe para o dia seguinte, e permaneça ao lado do cuidador por um tempo
extra, permitindo que a criança se acalme e fique novamente segura na
presença dele. Mais uma vez, pode haver altos e baixos no processo, e a
melhor coisa que você pode fazer para a sensação de segurança do seu
bebê, é estar por perto e atendê-lo assim que precisar de você. Antes de
ir para o passo número 4, você já deve estar conseguido ficar longe por
pelo menos metade do tempo em que ficará no trabalho.
4ºPasso: Separações longas, mas podendo retornar rapidamente
Assim
que vocês conseguirem passar metade do tempo do seu dia de trabalho com
poucas dificuldades, você pode começar a tentar aumentar o tempo de
separação para o horário integral. Contudo, o fundamental é que você
possa retornar rapidamente caso algo dê errado. Tenha certeza de que não
ficará em um local a 1 hora de distância, mas sim de preferência 10
minutos apenas, para que o cuidador consiga entrar em contato caso seu
filho fique chateado.
A chave para o sucesso dessa etapa é
garantir que você irá responder ao chamado do bebê o mais rápido
possível nesse período de longa ausência. Provavelmente você não vai
conseguir fazer isso sempre assim que voltar ao trabalho, então é
preciso construir na criança esse senso de segurança. Além disso, ele
vai aprender que o cuidador vai conseguir trazer de volta a mamãe ou o
papai quando for mesmo necessário, e isso pode ajudar a fortalecer o
vínculo de confiança entre eles. Mas ao final desta fase (que pode não
demorar muito, ou demorar uma semana ou mais), seu filho deve sentir-se
seguro e confiante com o novo cuidador, e seguro e confiante de que você
enquanto pai ou mãe ainda estarão presentes quando for extremamente
necessário para ele.
***
O
ponto principal nessa adaptação é seguir o ritmo da criança, oferecendo
sempre segurança e evitando levá-los para muito longe da zona de
conforto. Eles já estão sendo forçados a ficar um pouco mais distante do
que é mais seguro para eles, o que é normal (afinal de contas, é isso
que desenvolver qualquer habilidade requer),mas ir muito longe ou muito
rápido pode ser traumático. Permitir que a própria criança dê os passos
necessários para o seu conforto em um ambiente diferente,pode facilitar
bastante a situação para todos.
Reforço que sei que
isso pode não ser possível sempre. Ou necessário. Algumas crianças
simplesmente se adaptam muito mais rápido que outras e demoram poucos
dias para se acostumarem a alguém diferente. Ótimo! Isso é para as
crianças que não se encontram nessa situação. Contudo, o problema dessa
possibilidade é a questão central. Frequentemente as creches não querem a
presença dos pais, e têm a crença equivocada de que as crianças se
adaptam rapidamente, mas sabemos que isso não é o caso de muitas
crianças que começam a mostrar aumento na resposta ao estresse em
ambientes de creche de período integral, mesmo depois que chegam na fase
de parar de chorar.[1][2]. Crianças com apego seguro aos pais não
mostram essas respostas ao estresse quando um deles está presente na
fase de adaptação, mas essas respostas aparecem assim que o responsável
precisa ir embora (nesses estudos o período de adaptação era de 3 dias).
Por isso um período mais longo de adaptação pode ajudar. Se possível,
procure uma creche que ofereça essa possibilidade, ou uma babá que possa
fazer esse tipo de adaptação caso necessário.
Outro
problema é que muitas famílias simplesmente não têm o tempo necessário
para aplicar esses quatro passos, já que duram um período de tempo
extenso. Isso é uma questão predominante nos Estados Unidos, onde as
licenças podem ser de 6 semanas (ou ainda mais curtas). Não há tempo
para se conectar e depois fazer uma adaptação. De certa forma, bebês
tão novinhos se adaptam a novos cuidadores facilmente, então a
dificuldade passa a ser encontrar um ótimo cuidador. A grande maioria
das creches nos Estados Unidos não são boas, infelizmente, e não
proporcionam a atenção individualizada de que os bebês pequenos
precisam. O outro lado disso, é a luta por licenças maternidade mais
longas.
Independente da sua situação, o mais importante
é encontrar um cuidador em que você confie e que trate seu bebê com
amor e respeito. Isso pode significar que ele(a) irá te ligar várias
vezes durante as primeiras etapas, mas é parte da adaptação e de ajudar
seu filho a saber que você estará por perto quando for necessário. Há
excelentes cuidadores por aí, só é preciso procurar um pouco! Boa sorte!
[1] Ahnert L, Gunnar MR, LambME, Barthel M. Transition to child care:
associations with infant-motherattachment, infant negative emotion, and
cortisol elevations. ChildDevelopment 2004; 75: 639-650.
[2] Watamura SE, Donzella B,Alwin J, Gunnar MR. Morning-to-afternoon
increases in cortisolconcentrations for infants and toddlers at child
care: age differences andbehavioral correlates. Child Development 2003; 74: 1006-1020.