sábado, 1 de agosto de 2015

Adaptação a um novo cuidador em 4 passos

Por:Tracy G. Cassels
Tradução e adaptação: Gabriela de O. M. da Silva
Link para o original: http://evolutionaryparenting.com/transition-to-a-new-caregiver/

Uma das coisas mais difíceis para os pais fazerem é deixar o bebê nas mãos de outra pessoa. Mesmo quando esse outro, é alguém da família. Separar-se do bebê, pela razão que for, pode ser muito difícil, e quando o tempo de separação precisa ser longo (um dia de trabalho, por exemplo), fica mais complicado ainda. Uma parte disso vem do fato de ser muito comum ouvirmos histórias de bebês que começam a gritar, chorando, assim que os pais saem. Ao final do dia descobre-se que passaram horas gritando, até finalmente desistirem. Os cuidadores sempre afirmam que é comum e vai passar, mas muitos de nós temos a preocupação com o que vai acontecer com a confiança que nossos filhos depositam em nós. Algumas crianças se adaptam rapidamente, sem muitos problemas, mas outros sofrem bastante e nós, enquanto pais, pressentimos o que vai acontecer antes mesmo de começarem esses períodos de separação. E isso pode gerar muito estresse para nós e nossos filhos.

Mas o que podemos fazer? Vou indicar quatro passos que os pais podem seguir a fim de ajudar na adaptação dos bebês a um novo cuidador. [Estas sugestões podem não funcionar para todos, especialmente se o bebê está passando por uma fase forte de ansiedade da separação, então nesse caso cabe a cada família decidir como levar em conta suas necessidades e as necessidades do bebê.] Os passos partem do pressuposto de que você vai ter um cuidador em casa ou encontrou uma creche que permite sua presença por uma boa quantidade de horas durante algumas semanas, ajudando na adaptação. Nem todas as creches permitem isso(infelizmente). Se você tem uma criança que reage bastante às separações, seria bom ter isso como critério na hora de escolher a creche, se possível.


1º passo:Todos juntos
Um dos passos mais importantes para que sua criança sinta-se confortável é garantir que haverá uma exposição ao novo cuidador, estando você junto com ela. Conforme essa nova pessoa se torna uma presença constante na vida do bebê, ele tem mais chances de sentir-se confortável sob os cuidados dela quando você estiver ausente.

Obviamente,o tempo que demora para que isso ocorra varia de uma criança para outra, então quanto mais cedo começarem, melhor. A alimentação é uma das formas que você pode usar para ajudar nessa transição, principalmente se o cuidador vai  alimentar o bebê na sua ausência. Se você amamenta e vai deixar leite materno ordenhado, você pode observar como o bebê reage ao ser alimentado pelo cuidador, mesmo que para isso você comece segurando-o no seu colo, e o cuidador oferecendo o leite (ou vice-versa).
Outras dicas que ajudam: ter a presença do cuidador enquanto você troca a roupa ou a fralda do bebê, e tentar que essa pessoa faça a troca por algumas vezes na sua presença; deixar que o cuidador o segure no colo enquanto você estiver por perto pelo tempo que o bebê permitir; e deixar que o cuidador tente acalmar seu bebê no próprio colo, apenas ouvindo sua voz, antes de devolvê-lo imediatamente para os seus braços.


2º passo: Separações rápidas até o cômodo ao lado
O próximo passo é tentar separações breves, de forma que seu bebê consiga escutar o som da sua voz explicando que está apenas indo ao cômodo ao lado e já vai voltar.Você pode ir aos poucos aumentando o tempo que permanece fora do campo de visão dele, mas sempre retorne assim que ele chamar por você. Comece com cinco minutos (ou menos, se necessário), e tente deixar a criança com o novo cuidador(em cuja presença ela já deve estar se sentindo confortável a essa altura),enquanto você sai do ambiente. Se em algum momento a criança chamar por você,volte imediatamente para  confortá-la, e só tente repetir depois de um tempo (pelo menos meia hora) a separação. Vá aumentando os intervalos de tempo no ritmo que for mais confortável para você e o bebê, mas não aumente muito mais que 5 minutos a cada dia.

Além disso, você pode também começar a aumentar o tempo que demora para retornar quando a criança se mostra chateada. Nos primeiros dias, retorne imediatamente.Seu filho precisa acreditar fortemente que você sempre vai retornar para ficar com ele. Contudo, assim que começar a aumentar o tempo que fica no outro cômodo, você pode também aguardar um minuto para ver se o cuidador consegue acalmá-lo sem a sua presença. Contudo, não demore mais que alguns minutos, pois isso pode tornar negativa para o bebê a experiência de ficar com o cuidador, e assim tornar mais difícil o processo de criação de vínculo afetivo entre eles. Recomendo anotar o tempo que você consegue se distanciar. E tenha em mente que vão acontecer altos e baixos durante a adaptação, por isso não se assuste. Não é porque em um dia seu filho conseguiu ficar 10 minutos longe, e no dia seguinte apenas 5, que você vai pensar que não estão fazendo progressos, é apenas um solavanco na estrada.


 3º passo: Separações rápidas, saindo de casa
Assim que você conseguir ficar longe por 30 minutos sem que seu filho o chame de volta,pode começar a sair de casa (ou permitir que a criança e o cuidador saiam para dar um volta, se for o caso do cuidador ser uma babá ou membro da família). Isso quer dizer que não conseguirá retornar imediatamente no caso da criança ficar triste e chamar por você. Explique isso a ele(a). Não importa o quão novinhos sejam, se você criar o hábito de explicar esse tipo de coisa desde cedo, vai ser bastante útil mais adiante, e se seu filho já puder entender mesmo que parcialmente, já vai ajudar. Algumas crianças irão se sentir melhor com um novo cuidador em um ambiente diferente, enquanto outras preferirão permanecer no mesmo ambiente (em casa, por exemplo). Você precisa saber como seu filho reage e fazer os arranjos adequados às necessidades dele(a) se for possível.

 Mais uma vez, você vai aos poucos aumentando o tempo de separação, começando com os 30 minutos que vocês já conseguiam ficar longe dentro de casa. Isso permite ao novo cuidador ter tempo para acalmar acriança no caso de ficar chateada ou começar a chorar. Recomendo sempre que você esteja com um telefone à mão para conseguir ser alcançado. Se o bebê começar a ficar histérico, é melhor dirigir-se diretamente a ele: deixe que o cuidador coloque seu filho no telefone para que você possa explicar que está voltando imediatamente. Se isso acontecer, não tente sair novamente naquele dia, deixe para o dia seguinte, e permaneça ao lado do cuidador por um tempo extra, permitindo que a criança se acalme e fique novamente segura na presença dele. Mais uma vez, pode haver altos e baixos no processo, e a melhor coisa que você pode fazer para a sensação de segurança do seu bebê, é estar por perto e atendê-lo assim que precisar de você. Antes de ir para o passo número 4, você já deve estar conseguido ficar longe por pelo menos metade do tempo em que ficará no trabalho.


4ºPasso: Separações longas, mas podendo retornar rapidamente
Assim que vocês conseguirem passar metade do tempo do seu dia de trabalho com poucas dificuldades, você pode começar a tentar aumentar o tempo de separação para o horário integral. Contudo, o fundamental é que você possa retornar rapidamente caso algo dê errado. Tenha certeza de que não ficará em um local a 1 hora de distância, mas sim de preferência 10 minutos apenas, para que o cuidador consiga entrar em contato caso seu filho fique chateado.
A chave para o sucesso dessa etapa é garantir que você irá responder ao chamado do bebê o mais rápido possível nesse período de longa ausência. Provavelmente você não vai conseguir fazer isso sempre assim que voltar ao trabalho, então é preciso construir na criança esse senso de segurança. Além disso, ele vai aprender que o cuidador vai conseguir trazer de volta a mamãe ou o papai quando for mesmo necessário, e isso pode ajudar a fortalecer o vínculo de confiança entre eles. Mas ao final desta fase (que pode não demorar muito, ou demorar uma semana ou mais), seu filho deve sentir-se seguro e confiante com o novo cuidador, e seguro e confiante de que você enquanto pai ou mãe ainda estarão presentes quando for extremamente necessário para ele.


                                                                               ***


O ponto principal nessa adaptação é seguir o ritmo da criança, oferecendo sempre segurança e evitando levá-los para muito longe da zona de conforto. Eles já estão sendo forçados a ficar um pouco mais distante do que é mais seguro para eles, o que é normal (afinal de contas, é isso que desenvolver qualquer habilidade requer),mas ir muito longe ou muito rápido pode ser traumático. Permitir que a própria criança dê os passos necessários para o seu conforto em um ambiente diferente,pode facilitar bastante a situação para todos.

Reforço que sei que isso pode não ser possível sempre. Ou necessário. Algumas crianças simplesmente se adaptam muito mais rápido que outras e demoram poucos dias para se acostumarem a alguém diferente. Ótimo! Isso é para as crianças que não se encontram nessa situação. Contudo, o problema dessa possibilidade é a questão central. Frequentemente as creches não querem a presença dos pais, e têm a crença equivocada de que as crianças se adaptam rapidamente, mas sabemos que isso não é o caso de muitas crianças que começam a mostrar aumento na resposta ao estresse em ambientes de creche de período integral, mesmo depois que chegam na fase de parar de chorar.[1][2].  Crianças com apego seguro aos pais não mostram essas respostas ao estresse quando um deles está presente na fase de adaptação, mas essas respostas aparecem assim que o responsável precisa ir embora (nesses estudos o período de adaptação era de 3 dias). Por isso um período mais longo de adaptação pode ajudar. Se possível, procure uma creche que ofereça essa possibilidade, ou uma babá que possa fazer esse tipo de adaptação caso necessário.

Outro problema é que muitas famílias simplesmente não têm o tempo necessário para aplicar esses quatro passos, já que duram um período de tempo extenso. Isso é uma questão predominante nos Estados Unidos, onde as licenças podem ser de 6 semanas (ou ainda mais curtas). Não há tempo para se conectar e depois  fazer uma adaptação. De certa forma, bebês tão novinhos se adaptam a novos cuidadores facilmente, então a dificuldade passa a ser encontrar um ótimo cuidador. A grande maioria das creches nos Estados Unidos não são boas, infelizmente, e não proporcionam a atenção individualizada de que os bebês pequenos precisam. O outro lado disso, é a luta por licenças maternidade mais longas.

Independente da sua situação, o mais importante é encontrar um cuidador em que você confie e que trate seu bebê com amor e respeito. Isso pode significar que ele(a) irá te ligar várias vezes durante as primeiras etapas, mas é parte da adaptação e de ajudar seu filho a saber que você estará por perto quando for necessário. Há excelentes cuidadores por aí, só é preciso procurar um pouco! Boa sorte!

[1] Ahnert L, Gunnar MR, LambME, Barthel M.  Transition to child care: associations with infant-motherattachment, infant negative emotion, and cortisol elevations.  ChildDevelopment 2004; 75: 639-650.
[2] Watamura SE, Donzella B,Alwin J, Gunnar MR.  Morning-to-afternoon increases in cortisolconcentrations for infants and toddlers at child care: age differences andbehavioral correlates.  Child Development 2003; 74: 1006-1020.
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