Por Fernanda Rezende Silva
Minha saga começou quando minha filha estava com 11 meses. Os primeiros
dentes superiores estavam nascendo e meu seio direito machucou. Imaginei
que o motivo fosse os dentes apontando e uma eventual pega errada, mas
se fosse só isso teria resolvido facilmente.
O seio esquerdo também
feriu, eu já tinha acabado com a pomada de lanolina que tinha em casa e
o problema continuava. Usei cascas de frutas e o problema piorou (hoje
entendo porque o GVA e o Ministério da Saúde são contra o uso de cascas e
afins).
Depois de um mês tentando soluções caseiras (um grande
erro), conversei com uma consultora de amamentação que me disse que
talvez meu problema fosse fungos. Consultei então um mastologista e ele
me receitou tratamento para fungos (1). Fiz 2 meses de tratamento sem
resultado.
Resolvi então me consultar com minha antiga GO (da minha
cidade natal) e ela me disse que meu problema não era fungos - eu tinha
uma dermatite e precisava me consultar com um dermatologista. O dermato
indicado por ela pediu biópsia (eu tinha a mesma dermatite no braço),
confirmou o diagnóstico e receitou pomada de corticoide - só aí comecei a
ver melhoras.
A pomada resolvia, mas logo a dermatite (2) aparecia de
novo. Consultei outros dois dermatologistas, que mantiveram o
tratamento. Fiz um teste de alergia, por suspeita de dermatite de
contato, que não matou a charada da dermatite misteriosa. Mais alguns
meses se passaram e eu continuava com o problema.
Desenvolvi alergia a lanolina, talvez por ter usado demais (bastava
passar um pouquinho que o peito feria na hora). Sabe quando as
moderadoras do GVA falam que o melhor para passar no peito é o próprio
leite? Então, isso se explica facilmente se você pensar que até lanolina
pode causar alergia (na mãe e/ou no bebê) e com leite materno esse
risco não existe.
Nesse ponto da história o GVA entrou na minha
vida. Descobri o que é APLV - alergia às proteínas do leite de vaca - e
descobri que dermatites frequentes podem ser sintoma de APLV (3). Lembrei
que sofro com dermatites desde a infância - elas aparecem em várias
partes do corpo - e era comum minha mãe me tratar com pomadas fortes
(dessas que hoje só são vendidas com receita médica) - relembrar estes
fatos aumentou minha suspeita de alergia a leite.
Eu já tinha
parado de tomar leite há anos por causa de enxaqueca, mas ainda consumia
os derivados, então passei a ficar mais atenta. Percebi que por duas
vezes tive reação após tomar iogurte - a dermatite dos seios ficou
forte, a ponto de sangrar.
Marquei consulta com uma pediatra que
realmente entende de amamentação e APLV (engraçado eu me consultar com
uma pediatra, mas não conheço médico de adultos que entenda de APLV).
Ela confirmou minha suspeita, e me disse que tem sido muito comum
adultos que foram amamentados pouco tempo desenvolverem alergia a leite
(exatamente o meu caso).
Comecei a dieta restritiva - cortei os derivados de leite e tudo que tem
leite. Passei a ler rótulos, perguntar ingredientes em restaurantes, aprendi receitas sem leite.
Depois de usar pomadas de corticoide por quase um ano enfim pude
amamentar em paz, sem pomadas e sem dor, graças à dieta.
Tentei
escrever de forma bem resumida, mas não posso deixar de citar como
estava a minha cabeça. Vários profissionais me sugeriram desmamar, e
isso doeu muito. Depois de alguns meses de luta eu até evitava tocar no
assunto, pois as pessoas me criticavam, então eu preferia dizer que
estava tudo bem, mesmo se estivesse com dor. Aprendi algumas coisas nesta jornada que podem ser úteis a outras mães, então vou resumir aqui:
-- Alergias podem ser desenvolvidas (antes eu pensava que alergia fosse
uma doença que acompanha a pessoa a vida toda). Um exemplo: já vi
amigas que sempre usavam esmalte normalmente desenvolverem alergia a
esmalte.
-- Se você já tem um histórico de problemas de pele saiba
que: eles podem aparecer também nos seios e isso pode acontecer
justamente no período de amamentação, mas dermatite tem tratamento e
não é motivo para desmame.
-- É possível viver sem leite de vaca e ele é um alimento que, na minha opinião, faz mais mal do que bem.
-- Nem tudo que coça/arde/descama nos seios é candidíase. Os seios
estão sujeitos a todo tipo de problema de pele, assim como o restante do
corpo,, e quando o caso é realmente uma infecção há mais chances de ser
causada por bactérias do que por fungos, por isso é importante o médico
pedir exame antes de receitar medicação (4).
-- Profissionais despreparados acham mais fácil indicar desmame do que
procurar a causa do problema da mãe, então se você quer continuar
amamentando precisa escolher bem onde procurar ajuda.
-- Leite de
vaca é um dos alimentos que pode causar alergia, mas não é o único,
então no caso de suspeita de alergia o ideal é testar cada alimento
suspeito separadamente.
-- Intolerância a lactose não tem NADA a ver com APLV (5).
-- Alergia alimentar não é frescura e "só um pouquinho" pode fazer
muito mal. Um exemplo: eu tive reação ao comer um chocolate que tinha
apenas traços de leite.
A amamentação aqui segue firme e forte e já dura 39 meses :) Valeu a pena cada dia de luta - meu leite não virou água, continua rico
em nutrientes e anticorpos, e ver minha filha super saudável graças ao
meu leite é algo que faz tudo valer a pena.
Links:
1 - Esclarecendo a candidíase mamária: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/04/esclarecendo-candidiase-mamaria.html
2 - Os sintomas mais comuns de qualquer dermatite são vermelhidão, coceira, descamação - se você desconfia que possa ter dermatite consulte um médico.
3 - Desconfie de APLV se: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/aplv-desconfie-de-aplv-se.html
4 - Você tem ou teve "sapinho"? Novos dados: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/voce-tem-ou-teve-sapinho-novos-dados.html
5 - Intolerância x galactossemia x alergia LV: http://meufilhoealergicoaleite.blogspot.com.br/2008/09/intolerancia-x-galactossemia-x-alergia.html