Esse texto é um relato de um ponto de vista peculiar, cercado de auto crítica e sensibilidade no que diz respeito aos sentimentos do filho, e extremamente tocante....!
A linha tênue entre os conceitos de culpa e responsabilidade, quando um sobrepõe ao outro nesse caminho da maternidade ativa e o quanto isso nos liberta e nos permite crescer
Se você mãe, está cogitando oferecer uma chupeta ao seu filho, ou já a utiliza, leia esse relato com a mente e o coração abertos, porque empatia pelo filho é um processo interno e as vezes difícil, mas muito necessário para construir uma relação de confiança mútua nessa dupla mãe bebê
Se você mãe, está cogitando oferecer uma chupeta ao seu filho, ou já a utiliza, leia esse relato com a mente e o coração abertos, porque empatia pelo filho é um processo interno e as vezes difícil, mas muito necessário para construir uma relação de confiança mútua nessa dupla mãe bebê
"visando curar minha ausência de voz... visando passar para os 5 anos sem essa... buscando essa cura enfim... "
Por Fabíola Souto, Mãe do Davi, advogada por profissão, doula e voluntária de coração
"Eu não canso de dizer que a maternidade para mim foi minha
maior yoga – meu caminho de auto descobrimento, de encarar sombras e clareá-las
na medida do possível, de descobrir o que me serve ou não nesse mundo para o
meu mundo.
E maternidade vem acompanhada de uma praga – a mãe vai
morder a língua ou se afogar com ela em vários momentos.
E o pior, por mais que você saiba que suas escolhas refletem
no resto do mundo, com seu filho isso é
escancarado e exposto na sua cara o tempo todo!
Eu não acreditava tanto no poder da amamentação antes de meu
filho nascer, mas queria amamentar o que desse, até porque eu pensava em voltar
ao trabalho, se possível na primeira semana. Mas eu estava me preparando para amamentar, não tinha comprado chupetas nem mamadeiras e negava qualquer
indicação sobre estas.
Mas aí, eu recebi uma falsa indicação de cesariana e
aceitei. Por que eu conto isso?
Porque eu acho que foi
nesse momento que eu perdi o poder sobre o processo que fez com que eu
fraquejasse em algumas decisões. Em alguns momentos eu realmente tive esse
pensamento consciente: agora já deu merda mesmo! Foi assim com o plano de
parto, com o leite artificial na maternidade e com outras coisas mais.
Mas a chupeta foi mais inconsciente, embora hoje eu veja
ligação sim. Eu estava cansada, com o
peito rachado, sentindo-me incapaz, fraca, cortada, violentada. Meu filho, como
todo bebê recém-nascido demandava meu peito, demandava seu alimento, seu calor,
seu contato e alguns momentos 24 horas por dia.
E as pessoas mais
amadas por mim levavam chupetas diversas para que ele aceitasse mais fácil.
E eu me rendi mais uma vez à indicação de
algo que nos traria diversos problemas.
Primeiro e mais rápido – a pega que já estava melhorando,
voltou a piorar e o peito a rachar. Meu
filho que já não ganhava peso bem continuou em um ritmo muito lento. Não
introduzi leite artificial porque ele era APLV e resolvi insistir na AME.
Mas, eu agora tinha pena de tirar a chupeta, medo dele sentir
sua falta, porque com 4 meses eu realmente precisei voltar ao trabalho e pensei
que ela serviria de consolo.
Meu filho, mesmo com a chupeta, nunca aceitou trocar o peito
por ela, principalmente a noite. Ele mamou a noite até 2 anos. Por sorte ele não desmamou precocemente, porque mamou até 2
anos, 11 meses e 3 semanas, sendo que seu desmame foi espontâneo.
"Mas disso, desse
desmame espontâneo, hoje eu tenho dúvidas... Ele desmamou, mas usou chupeta até
4 anos e 8 meses..."
Em diversas fases nesse período eu tentei tirar a chupeta –
com 2 anos reduzimos e limitamos para a
hora de dormir e ele passou a roer unhas. Uma vez tentamos tirar de vez e ele voltou a roer unhas e a chorar
desmedidamente.
Eu mostrei fotos de dentes e arcadas dentárias afetadas pelo
uso da chupeta e ele ficou horrorizado,
teve pesadelos, mas não largou o “bá” (nome carinhoso do pedaço de plástico
que já é conhecido da minha família há gerações).
Tive épocas de chamar a chupeta de nojenta, feia, fedida até
um dia que uma colega me disse que usou chupeta até a adolescência escondida e
sentia-a suja, criminosa, indigna por conta das coisas que ouvia dos pais e
tios que sabiam de seu hábito. Parei de
me referir assim ao objeto tão amado pelo meu filho.
É amado sim. E fui eu
que incentivei esse relacionamento de amor. Fui eu que impus. Foi a chupeta
que eu ofereci quando ele queria se
comunicar comigo, através do choro e do contato físico. E por isso eu tinha tanta raiva e nojo dela.
Davi pediu para parar
de usar a chupeta sozinho, chorando, implorando ajuda. Eu disse que sim.
Ele pediu que eu o abraçasse e que eu colocasse um prazo e um prêmio no final e
eu fiz.
Ele nunca mais chorou, mas ele agora sabe falar o que sente
e o que pensa. Ele disse estar sofrendo,
estar com saudades, estar se sentido sozinho. Ele disse ter pena do bá, que foi
seu amigo por tanto tempo, e agora estava no lixo (local que ele pediu para
eu colocar para não ser tentado a pedir).
Ele passou a chupar mangas das roupas, golas, pontas de
travesseiros e tudo mais que ele encontrasse pela frente depois que parou de
usar a chupeta. Esse hábito vem diminuindo aos poucos, mas ainda persiste e
tentamos não reprimir, mas desviar a atenção para alguma coisa.
Ele foi à dentista essa semana e ela perguntou sobre o uso
de chupetas e mamadeiras. Ele contou que não usa mais, mas depois, no caminho para casa, disse que ainda sentia muita
falta de chupar, mas que não queria fazer 5 anos usando bá, que nenhum dos
amigos usa mais e ele então precisou jogar fora. Mas os olhos dele brilham de
vontade de chorar, ainda...
Por que eu estou
relatando isso aqui?
Porque sim, pode ser que seu filho use chupeta e mamadeira e
lá, no fim das contas, a amamentação dure mais tempo, mas vocês não sairão
ilesos dessa escolha (errada!).
A amamentação será sim prejudicada.
A dentição e a respiração de seu filho será sim prejudicada.
Além do desmame você terá que participar da “deschupetação”
(se tiver palavra melhor, substitui aí – eu só achei esta).
Que se houver benefícios como acalmar um bebê por alguns
instantes a mais, esses não serão maiores
do que os prejuízos para o seu filho.
Que a escolha não foi do seu filho, que só queria seu peito
e seu calor. A escolha foi sua. A responsabilidade é sua.
Você é a mãe dele e só você pode escolher isso em algum
momento.
E eu não estou falando de culpa. Eu quero dizer que me sinto responsável por todo esse processo
e que se eu pudesse voltar no tempo eu não deixaria meu filho descobrir o que é
uma chupeta. Que foi essa mesma responsabilidade que me fez perceber que
não era justo antecipar a “deschupetação” nem fazer de forma violenta,
drástica, em troca de presentes do Papai Noel ou qualquer outra coisa chantagem
(rolou um presente, mas ele pediu).
É essa
responsabilidade que me move hoje a respeitar os limites e as necessidades do
meu filho. Ele não tinha necessidade de chupeta. Ele tinha necessidade de se
comunicar comigo, sua mãe. Hoje, estou tentando suprir essa necessidade de
outras formas, mas posso dizer, que as
nossas marcas ainda estão expostas, as vezes doem, as vezes tornam a
comunicação mais difícil, as vezes nos obrigam a voltar ao princípio, só que
hoje eu não tenho mais o peito para oferecer...
E era tão simples e fácil
quando só o peito resolvia tudo..."
Leituras recomendadas:
http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/09/chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html
https://www.facebook.com/pages/VIVAVITA-Odontologia-e-Sa%C3%BAde/154050994702678?fref=ts