segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobre um dos meus erros e seus reflexos - A Chupeta!


Esse texto é um relato de um ponto de vista peculiar, cercado de auto crítica e sensibilidade no que diz respeito aos sentimentos do filho, e extremamente tocante....! 

A linha tênue entre os conceitos de culpa e responsabilidade, quando um sobrepõe ao outro nesse caminho da maternidade ativa e o quanto isso nos liberta e nos permite crescer

Se você mãe, está cogitando oferecer uma chupeta ao seu filho, ou já a utiliza, leia esse relato com a mente e o coração abertos, porque empatia pelo filho é um processo interno e as vezes difícil, mas muito necessário para construir uma relação de confiança mútua nessa dupla mãe bebê


"visando curar minha ausência de voz... visando passar para os 5 anos sem essa... buscando essa cura enfim... "


Por Fabíola Souto, Mãe do Davi, advogada por profissão, doula e voluntária de coração


"Eu não canso de dizer que a maternidade para mim foi minha maior yoga – meu caminho de auto descobrimento, de encarar sombras e clareá-las na medida do possível, de descobrir o que me serve ou não nesse mundo para o meu mundo.

E maternidade vem acompanhada de uma praga – a mãe vai morder a língua ou se afogar com ela em vários momentos.

E o pior, por mais que você saiba que suas escolhas refletem no resto do mundo, com seu filho isso é escancarado e exposto na sua cara o tempo todo!

Eu não acreditava tanto no poder da amamentação antes de meu filho nascer, mas queria amamentar o que desse, até porque eu pensava em voltar ao trabalho, se possível na primeira semana. Mas eu estava me preparando para amamentar, não tinha comprado chupetas nem mamadeiras e negava qualquer indicação sobre estas.

Mas aí, eu recebi uma falsa indicação de cesariana e aceitei. Por que eu conto isso?

Porque eu acho que foi nesse momento que eu perdi o poder sobre o processo que fez com que eu fraquejasse em algumas decisões. Em alguns momentos eu realmente tive esse pensamento consciente: agora já deu merda mesmo! Foi assim com o plano de parto, com o leite artificial na maternidade e com outras coisas mais.

Mas a chupeta foi mais inconsciente, embora hoje eu veja ligação sim. Eu estava cansada, com o peito rachado, sentindo-me incapaz, fraca, cortada, violentada. Meu filho, como todo bebê recém-nascido demandava meu peito, demandava seu alimento, seu calor, seu contato e alguns momentos 24 horas por dia.

E as pessoas mais amadas por mim levavam chupetas diversas para que ele aceitasse mais fácil. E eu me rendi mais uma vez à indicação de algo que nos traria diversos problemas.

Primeiro e mais rápido – a pega que já estava melhorando, voltou a piorar e o peito a rachar.  Meu filho que já não ganhava peso bem continuou em um ritmo muito lento. Não introduzi leite artificial porque ele era APLV e resolvi insistir na AME.

Mas, eu agora tinha pena de tirar a chupeta, medo dele sentir sua falta, porque com 4 meses eu realmente precisei voltar ao trabalho e pensei que ela serviria de consolo.

Meu filho, mesmo com a chupeta, nunca aceitou trocar o peito por ela, principalmente a noite. Ele mamou a noite até 2 anos. Por sorte ele não desmamou precocemente, porque mamou até 2 anos, 11 meses e 3 semanas, sendo que seu desmame foi espontâneo.

"Mas disso, desse desmame espontâneo, hoje eu tenho dúvidas... Ele desmamou, mas usou chupeta até 4 anos e 8 meses..."

Em diversas fases nesse período eu tentei tirar a chupeta – com 2 anos reduzimos e limitamos para a hora de dormir e ele passou a roer unhas. Uma vez tentamos tirar de vez e ele voltou a roer unhas e a chorar desmedidamente.

Eu mostrei fotos de dentes e arcadas dentárias afetadas pelo uso da chupeta e ele ficou horrorizado, teve pesadelos, mas não largou o “bá” (nome carinhoso do pedaço de plástico que já é conhecido da minha família há gerações).

Tive épocas de chamar a chupeta de nojenta, feia, fedida até um dia que uma colega me disse que usou chupeta até a adolescência escondida e sentia-a suja, criminosa, indigna por conta das coisas que ouvia dos pais e tios que sabiam de seu hábito. Parei de me referir assim ao objeto tão amado pelo meu filho.

É amado sim. E fui eu que incentivei esse relacionamento de amor. Fui eu que impus. Foi a chupeta que eu ofereci quando ele queria se comunicar comigo, através do choro e do contato físico. E por isso eu tinha tanta raiva e nojo dela.

Davi pediu para parar de usar a chupeta sozinho, chorando, implorando ajuda. Eu disse que sim. Ele pediu que eu o abraçasse e que eu colocasse um prazo e um prêmio no final e eu fiz.

Ele nunca mais chorou, mas ele agora sabe falar o que sente e o que pensa. Ele disse estar sofrendo, estar com saudades, estar se sentido sozinho. Ele disse ter pena do bá, que foi seu amigo por tanto tempo, e agora estava no lixo (local que ele pediu para eu colocar para não ser tentado a pedir).

Ele passou a chupar mangas das roupas, golas, pontas de travesseiros e tudo mais que ele encontrasse pela frente depois que parou de usar a chupeta. Esse hábito vem diminuindo aos poucos, mas ainda persiste e tentamos não reprimir, mas desviar a atenção para alguma coisa.

Ele foi à dentista essa semana e ela perguntou sobre o uso de chupetas e mamadeiras. Ele contou que não usa mais, mas depois, no caminho para casa, disse que ainda sentia muita falta de chupar, mas que não queria fazer 5 anos usando bá, que nenhum dos amigos usa mais e ele então precisou jogar fora. Mas os olhos dele brilham de vontade de chorar, ainda...

 Por que eu estou relatando isso aqui?

Porque sim, pode ser que seu filho use chupeta e mamadeira e lá, no fim das contas, a amamentação dure mais tempo, mas vocês não sairão ilesos dessa escolha (errada!).

A amamentação será sim prejudicada.
A dentição e a respiração de seu filho será sim prejudicada.
Além do desmame você terá que participar da “deschupetação” (se tiver palavra melhor, substitui aí – eu só achei esta).
Que se houver benefícios como acalmar um bebê por alguns instantes a mais, esses não serão maiores do que os prejuízos para o seu filho.
Que a escolha não foi do seu filho, que só queria seu peito e seu calor. A escolha foi sua. A responsabilidade é sua.
Você é a mãe dele e só você pode escolher isso em algum momento.

E eu não estou falando de culpa. Eu quero dizer que me sinto responsável por todo esse processo e que se eu pudesse voltar no tempo eu não deixaria meu filho descobrir o que é uma chupeta. Que foi essa mesma responsabilidade que me fez perceber que não era justo antecipar a “deschupetação” nem fazer de forma violenta, drástica, em troca de presentes do Papai Noel ou qualquer outra coisa chantagem (rolou um presente, mas ele pediu).


É essa responsabilidade que me move hoje a respeitar os limites e as necessidades do meu filho. Ele não tinha necessidade de chupeta. Ele tinha necessidade de se comunicar comigo, sua mãe. Hoje, estou tentando suprir essa necessidade de outras formas, mas posso dizer, que as nossas marcas ainda estão expostas, as vezes doem, as vezes tornam a comunicação mais difícil, as vezes nos obrigam a voltar ao princípio, só que hoje eu não tenho mais o peito para oferecer... 

E era tão simples e fácil quando só o peito resolvia tudo..."



Leituras recomendadas:
http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/09/chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html

https://www.facebook.com/pages/VIVAVITA-Odontologia-e-Sa%C3%BAde/154050994702678?fref=ts
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