Por Luciana Freitas
O suco é um dos alimentos mais presentes na alimentação de bebês na cultura alimentar brasileira. Costuma ser, inclusive, o primeiro alimento a ser oferecido às crianças quando termina o período de exclusividade do leite materno.
Como se justifica, então, essa recomendação de não oferecer sucos a bebês menores de um ano, que se choca com a nossa tradição?
Bebês têm um estômago muito reduzido. Se damos a eles um alimento de grande volume e de baixa caloria, como sucos ou sopas, vamos encher o estômago deles com algo que não vai suprir suas necessidades calóricas. Quando adultos propositalmente não consomem alimentos que supram suas necessidades calóricas, à base fundamentalmente de frutas e legumes/verduras, damos a isso o nome bem conhecido de dieta ou regime de emagrecer. É o que queremos para nossos bebês? Que eles emagreçam?
Por exemplo, o suco de laranja lima, um dos mais calóricos e talvez o que é mais oferecido a bebês, tem cerca de 40 calorias/100 ml. Se o bebê tomar 100 ml desse suco, a barriguinha dele ficará cheia por algum tempo e ele não comerá nada mais e não mamará no peito. No entanto, o leite materno, além de infinitamente mais rico em nutrientes, possui cerca de 70 calorias/100 g. Uma diferença e tanto, não é mesmo? Se pensarmos em outros sucos, a diferença é ainda mais gritante. Por exemplo, um suco de melancia tem menos de 30 calorias/100 ml. E, atenção: estamos falando aqui das calorias de sucos feitos apenas com a fruta, sem adição de água. Se acrescentarmos água, eles ficam ainda menos calóricos.
Abaixo estão reproduzidos dois fragmentos do Guia alimentar para crianças menores de 2 anos, documento produzido pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde:
“Para que as crianças supram as suas necessidades energéticas, os alimentos complementares devem ter uma densidade energética mínima de 0,7 kcal/g. Por isso, sucos de frutas ou vegetais e sopas são desaconselhados, por possuírem baixa densidade energética.” (p.30, grifos nossos)
“O volume reduzido do estômago da criança pequena (30-40ml/kg de peso corporal) é um fator limitante na sua capacidade de aumentar a ingestão de alimentos de baixa densidade energética para suprir suas necessidades calóricas. Além disso, deve-se evitar alimentação muito freqüente em crianças amamentadas, uma vez que quanto mais alimentos ela consome, menos leite materno será ingerido.” (p.34)
No mesmo documento há sugestões de alimentação para bebês de 6 meses a 1 ano e nelas não vemos a presença de sucos, somente das frutas, que são ótimas opções. Os sucos estão presentes apenas na sugestão de alimentação para crianças de 1 a 2 anos.
Sucos? Só após 1 ano de idade!