quarta-feira, 4 de maio de 2016

Recomendações quanto à amamentação na vigência de doença/infecção materna

Por Grid Rocha

Quase todas as mães podem ser bem sucedidas na amamentação, o que inclui iniciar a amamentação dentro da primeira hora de vida, amamentar exclusivamente nos primeiros seis meses e continuar a amamentar (com alimentos complementares apropriados) até dois anos de idade ou mais.

Os efeitos positivos da amamentação na saúde das mães e crianças têm sido observados em toda parte. A amamentação reduz o risco de infecções agudas como diarréia, pneumonia, otite, Haemophilus influenzae, meningite e infecção urinária. Também protege contra doenças crônicas como diabete tipo I, colite ulcerativa e doença de Crohn. A amamentação está associada com menor pressão sanguínea média e colesterol total no soro, além de baixa prevalência de diabete tipo II, sobrepeso e obesidade na adolescência e vida adulta. A amamentação retarda a volta à fertilidade da mulher e reduz os riscos de hemorragia pós parto, câncer de mama, pré-menopausa e câncer de ovário.

Muitas mães ao serem acometidas por algum tipo de doença acabam desmamando seus filhos pela falta de informação adequada, pensando ou sendo levadas a pensar que na presença de tais enfermidades não se pode mais amamentar. Pois bem, a boa notícia é que são raras as razões que necessariamente levam ao desmame. Aqui, vamos falar um pouco sobre isso.





Não há indicação de suspender a amamentação, por exemplo, mesmo que temporariamente, nas mães com infecção urinária, infecção bacteriana de parede abdominal, episiorrafia, mastite ou outra em que as condições física e o estado geral da nutriz não estejam muito comprometidos.


Condições maternas durante as quais amamentar não é contra-indicado, embora elas representem problemas de saúde que causam preocupação:

- Hepatites A, B e C: Com relação à Hepatite A, quando o parto ocorre na fase aguda da doença, a criança deve receber imunoglobulina anti-HVA na dose de 0,02 ml/Kg como profilaxia. Já quanto a Hepatite B, vacina e administração de imunoglobulina específica após o nascimento, praticamente eliminam qualquer risco teórico de transmissão da doença via leite materno. Quanto à Hepatite C, não foi comprovada a transmissão pelo aleitamento materno, mesmo assim, a prevenção de fissuras mamilares em lactantes HCV positivas é importante. Em nenhum dos casos se contra-indica a amamentação.

- Citomegalia: Infecções sintomáticas ou sequelas tardias não têm sido observadas nos bebês, provavelmente pela passagem de anticorpos maternos específicos que os protegem contra a doença sistêmica.


- Herpes simples: o risco de transmissão do vírus pelo leite materno é muito baixo. O aleitamento materno deve ser mantido, exceto quando as vesículas herpéticas estiverem localizadas na mama. O contato direto entre as lesões mamárias da mãe e a boca do bebê deve ser evitado até que as lesões estejam curadas;

- Caxumba: A amamentação deverá continuar e as IgAs do leite humano podem ajudar a minimizar os sintomas da criança;

- Tuberculose: Recomenda-se que a mãe amamente com o uso de máscaras e restrinja o contato próximo com a criança por causa da transmissão potencial por meio das gotículas do trato respiratório. Além da administração de isoniazida ao recém-nascido pelo período de 3 meses bem como realizar os testes específicos;
 
- Rubéola: Não há casos em que contra-indiquem o aleitamento materno em nutrizes com a doença;

- Hanseníase: Não há contra-indicação para a amamentação se a mãe estiver sob tratamento adequado. Considera-se que a primeira dose de Rifanpicina é suficiente para que a mãe não seja mais bacilífera.

- Dengue: Além da doença só ser transmitida através da picada do mosquito, há no leite materno um fator antidengue que protege a criança;

- Abcesso mamário: a amamentação deve ser mantida na mama não afetada; quanto à mama afetada, deve-se retornar somente após a drenagem do abscesso e início do tratamento antibiótico.

- Mastite:  se a amamentação for muito dolorosa, o leite deve ser removido por ordenha para
prevenir a continuidade da mastite. A amamentação auxilia no tratamento da mastite.


- Sífilis: Não há evidências de transmissão pelo leite humano quando não há lesões na mama. Caso haja lesões, a recomendação é tratá-las e, com 24 horas após o tratamento com penicilina, o agente infeccioso raramente é identificado nas lesões;


Condições maternas que podem justificar parar de amamentar de forma permanente:

-  Mães infectadas pelo HIV;

-  Mães infectadas pelo HTLV1 e HTLV2;


Condições maternas que podem justificar parar de amamentar de forma temporária: 

- Varicela: se a mãe apresentar vesículas na pele cinco dias antes do parto ou até dois dias após o parto, recomenda-se o isolamento da mãe até que as lesões adquiram a forma de crosta.  A criança deve receber Imunoglobulina Humana Antivaricela Zoster (Ighavz), disponível nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIES) (BRASIL, 2006), que deve ser administrada em até 96 horas do nascimento, aplicada o mais precocemente possível.

- Doença de Chagas, na fase aguda da doença ou quando houver sangramento mamilar evidente



- Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação, como por exemplo, os antineoplásicos e os radiofármacos. Nesse caso, recomendamos consultar as bases de dados existentes: Manual Amamentação e uso de medicamentos e outras substância, e-lactância e LactMed. Ainda que a interrupção da amamentação durante o tratamento seja necessária em alguns casos, com o fim do tratamento a amamentação pode ser retomada.


- Consumo de drogas de abuso: a mãe deve ser incentivada a não usar tais substâncias e ter oportunidades e apoio para abstinência

Tabela do Caderno de Atenção Básica - Saúde da Criança (2015)



REFERÊNCIAS:
Razões médicas aceitáveis para uso de substitutos do leite materno, Atualização OMS (2009) disponível em: http://whqlibdoc.who.int/hq/2009/WHO_FCH_CAH_09.01_por.pdf

Saúde da Criança: Nutrição infantil, Caderno de Atenção Básica n° 23, disponível em <http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab23>

Recomendações quanto à amamentação na vigência de infecção materna, Joel A. Lamounier, Zeina S. Moulin, César C. Xavier, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a10.pdf

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