quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Curvas de peso: como interpretá-las?

Por Maria Birman Cavalcanti
Revisão: Luciana Freitas e Gabriela Silva


“Seu bebê está abaixo da curva!”

Você já ouviu isso em tom de alerta, de que algo não vai bem? O pediatra olhou o gráfico na caderneta de vacinação e disse que seu leite não era suficiente, que não era forte, que não era gorduroso? Ele disse que seu bebê precisava tomar complemento e justificou com essa afirmação? Mas o que é essa curva afinal?

Curva é como chamamos um dos instrumentos utilizados para avaliar o desenvolvimento do bebê. A curva é o caminho desenhado nos gráficos que ficam no final da Caderneta da Criança, documento produzido pelo Ministério da Saúde e que todas as crianças devem possuir. Ter a Caderneta preenchida por um profissional de saúde é um direito! 

Cada bebê tem sua própria curva, seu próprio caminho, seu ritmo. Essa curva desenhada individualmente pode ser avaliada, e classificada como adequada ou não, quando comparada às referências presentes no gráfico. Na versão atual da Caderneta da Criança, os gráficos mostram cinco linhas: uma verde, duas vermelhas e duas pretas. 

A curva verde marca a mediana. Isso significa que ela divide a população em duas partes iguais, metade para cima, metade para baixo. Quer dizer que a metade dos bebês saudáveis do mundo têm menos peso do que o que a linha verde indica; a outra metade, também saudável, tem mais peso. A curva verde não representa um padrão ideal de ganho de peso! “Chegar” nela não é um objetivo a ser perseguido e não é necessário para ter saúde! 

As curvas vermelhas marcam o caminho que os bebês mais extremos, aqueles bem grandes e os bem pequenos, fazem ao longo de seu crescimento e de ganho de peso. Nós não somos todos iguais, somos? Há adultos de 1,49m e de 1,89m igualmente saudáveis, independentemente de sua altura. É claro que essas pessoas também têm pesos diferentes (e filhos de tamanhos diferentes)! Bebês cujos peso está próximo dessas curvas são menos comuns, menos frequentes na população, mas tão saudáveis quanto os bebês que estão próximos da linha verde.

As curvas pretas são nosso sinal de alerta. É muito raro um bebê apresentar o peso marcado na linha preta sem que haja alguma aspecto a ser investigado sobre sua saúde. Quando o peso de um bebê está próximo à linha preta do gráfico, é preciso investigar para entender o que pode estar acontecendo: tanto pode ser um desses raros casos de bebês muito pequenos (ou muito grandes), como um caso de problema real de ganho de peso. 

Mas... A palavra mais importante de todo esse texto é mesmo curva. Durante a avaliação do ganho de peso de um bebê, é preciso observar se o traço feito com a caneta desenha uma curva parecida com as linhas coloridas já existentes no gráfico, seguindo uma inclinação parecida. Se o ganho de peso segue esse padrão, que chamamos de ascendente, ou seja, de subida, ele é satisfatório. Quando a curva vai perdendo sua inclinação, isso é, quando o caminho de ganho de peso do bebê vai caindo, é preciso prestar atenção. Por exemplo, se um bebê nos primeiros meses estava um pouco acima da linha verde e mais tarde vai se aproximando da vermelha, é preciso investigar o que está acontecendo. É diferente de um bebê que já nasce pequeno, ali entre a linha verde e a linha vermelha inferior, e segue ganhando peso num padrão ascendente sempre entre essas duas linhas, algo que é esperado e saudável. 

Figura 1:  Curva com ganho de peso estável
Figura 2: Curva com queda inicial no ganho de peso e depois aumento no ganho
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