sábado, 12 de setembro de 2020

Bebê alérgico a leite de vaca? Isso existe?

Por Luciana Freitas

 

Sim, existe. Estima-se que cerca de 6% das crianças menores de 3 anos tenham alguma alergia alimentar e o maior vilão é o leite de vaca. A notícia boa é que a alergia a leite costuma curar-se ainda na infância, ao contrário das demais, inclusive as alimentares.

Alergia é uma resposta do sistema imunológico a uma substância que o organismo identifica como estranha. No caso do leite de vaca, não é de se espantar que o corpo de uma criança o identifique como algo estranho; afinal, bebês humanos estão programados geneticamente para receber leite humano, não o de outros mamíferos. Essa resposta imunológica pode manifestar-se de muitas formas, por meio de sintomas gastrointestinais, respiratórios, dermatológicos, entre outros. Assim, bebês alérgicos a leite podem ter problemas diversos, muitas vezes associados, como sangue nas fezes causado por colite e proctite, cólica, vômito, refluxo, constipação ou diarreia, rinite, bronquite, otite de repetição e dermatite. Sintomas que podem confundir as mães e também os médicos.

A alergia a leite de vaca, ou melhor, às proteínas do leite de vaca (APLV) não deve confundir-se com intolerância à lactose (IL). Enquanto que a primeira é uma doença relativamente frequente em bebês, a segunda é muito rara. A IL é a incapacidade de digerir o açúcar do leite, que é a lactose. Ela se manifesta por meio de quadros exclusivamente gastrointestinais, principalmente cólicas e diarreias. Todos os mamíferos nascem com a capacidade de digerir a lactose, por uma questão de sobrevivência da espécie: filhote que não digere a lactose, em condições naturais, morre. Dessa forma, a intolerância é uma anormalidade genética muito rara em bebês e que se descobre nos primeiros dias de vida. Seu tratamento é simples, pois basta administrar ao bebê a enzima lactase, que é a responsável pela digestão da lactose. Dessa forma, o aleitamento materno pode e deve ser mantido.

E a APLV, como deve ser tratada? Com dieta rigorosa de leite e derivados. O melhor a se fazer é manter o aleitamento materno (exclusivo até os 6 meses e continuado até os 2 anos ou mais), com a mãe e o bebê em dieta rigorosa. É preciso ler todos os rótulos e verificar se há leite e derivados no produto, observar se os traços de leite (resquícios de leite de outro alimento que foi processado no mesmo maquinário) estão rotulados, ligar para o SAC para se certificar das informações, até mesmo separar utensílios, caso outras pessoas da família consumam leite e derivados. Não, não é um exagero. Alergia é qualitativa, não quantitativa; portanto, um litro ou um mililitro de leite é a mesma coisa para o alérgico. E, lembre-se: a cura depende da exclusão total, por isso quanto mais rigorosa for a dieta, maior a possibilidade de uma cura rápida. Em casos de bebês já desmamados, há formulas especiais hidrolisadas e de aminoácidos. As fórmulas de soja não devem ser consumidas antes dos 6 meses de idade por bebês APLV e, após essa idade, continuam sendo contraindicadas para aqueles que têm sintomas gastrointestinais. Além disso, cerca de 50% dos bebês alérgicos a leite apresentam também alergia a soja, motivo pelo qual muitas vezes ela é cortada preventivamente da dieta. Outro vilão para o bebê APLV pode ser a carne vermelha, com uma porcentagem de 10% de probabilidade de reação cruzada.

Se você acha que seu bebê pode ter APLV, consulte um bom gastropediatra. Ele é o profissional adequado para diagnosticar e tratar o problema. Paralelamente, procure informar-se e buscar apoio de outros pais APLV.


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