Por Luciana Freitas
Sim, existe.
Estima-se que cerca de 6% das crianças menores de 3 anos tenham alguma alergia
alimentar e o maior vilão é o leite de vaca. A notícia boa é que a alergia a
leite costuma curar-se ainda na infância, ao contrário das demais, inclusive as
alimentares.
Alergia é uma resposta do
sistema imunológico a uma substância que o organismo identifica como estranha.
No caso do leite de vaca, não é de se espantar que o corpo de uma criança o
identifique como algo estranho; afinal, bebês humanos estão programados
geneticamente para receber leite humano, não o de outros mamíferos. Essa
resposta imunológica pode manifestar-se de muitas formas, por meio de sintomas
gastrointestinais, respiratórios, dermatológicos, entre outros. Assim, bebês
alérgicos a leite podem ter problemas diversos, muitas vezes associados, como
sangue nas fezes causado por colite e proctite, cólica, vômito, refluxo,
constipação ou diarreia, rinite, bronquite, otite de repetição e dermatite.
Sintomas que podem confundir as mães e também os médicos.
A alergia a leite de vaca, ou melhor, às proteínas do leite de vaca
(APLV) não deve confundir-se com intolerância à lactose (IL). Enquanto que a
primeira é uma doença relativamente frequente em bebês, a segunda é muito rara.
A IL é a incapacidade de digerir o açúcar do leite, que é a lactose. Ela se
manifesta por meio de quadros exclusivamente gastrointestinais, principalmente
cólicas e diarreias. Todos os mamíferos nascem com a capacidade de digerir a
lactose, por uma questão de sobrevivência da espécie: filhote que não digere a
lactose, em condições naturais, morre. Dessa forma, a intolerância é uma
anormalidade genética muito rara em bebês e que se descobre nos primeiros dias
de vida. Seu tratamento é simples, pois basta administrar ao bebê a enzima
lactase, que é a responsável pela digestão da lactose. Dessa forma, o
aleitamento materno pode e deve ser mantido.
E a APLV, como deve ser tratada? Com dieta rigorosa de leite e derivados.
O melhor a se fazer é manter o aleitamento materno (exclusivo até os 6 meses e
continuado até os 2 anos ou mais), com a mãe e o bebê em dieta rigorosa. É
preciso ler todos os rótulos e verificar se há leite e derivados no produto,
observar se os traços de leite (resquícios de leite de outro alimento que foi
processado no mesmo maquinário) estão rotulados, ligar para o SAC para se
certificar das informações, até mesmo separar utensílios, caso outras pessoas
da família consumam leite e derivados. Não, não é um exagero. Alergia é
qualitativa, não quantitativa; portanto, um litro ou um mililitro de leite é a
mesma coisa para o alérgico. E, lembre-se: a cura depende da exclusão total,
por isso quanto mais rigorosa for a dieta, maior a possibilidade de uma cura
rápida. Em casos de bebês já desmamados, há formulas especiais hidrolisadas e
de aminoácidos. As fórmulas de soja não devem ser consumidas antes dos 6 meses
de idade por bebês APLV e, após essa idade, continuam sendo contraindicadas
para aqueles que têm sintomas gastrointestinais. Além disso, cerca de 50% dos
bebês alérgicos a leite apresentam também alergia a soja, motivo pelo qual
muitas vezes ela é cortada preventivamente da dieta. Outro vilão para o bebê
APLV pode ser a carne vermelha, com uma porcentagem de 10% de probabilidade de
reação cruzada.
Se você acha que seu bebê pode ter APLV, consulte um bom gastropediatra.
Ele é o profissional adequado para diagnosticar e tratar o problema.
Paralelamente, procure informar-se e buscar apoio de outros pais APLV.