Link para o texto original em inglês: http://www.evolutionaryparenting.com/?p=63
Tradução: Gabriela de O. M. da Silva
Não é segredo que sou uma GRANDE fã da cama compartilhada. Além da
amamentação, eu acho que é a melhor coisa que você pode fazer pelo seu
bebê. E ainda assim, quando você comenta com alguém a respeito de fazer
essa prática, sobrancelhas se levantam mais rápido do que com uso de
Botox.
Geralmente as pessoas começam com um olhar de
espanto e logo perguntam quando você pensa em parar com isso, como se
fosse um hábito desagradável, comparável a fumar ou deixar sua criança
fazer xixi no chão. Se você questionar essas pessoas a respeito de
porquê pensam que é um hábito nocivo, na maioria das vezes é devido ao
fato de acreditarem que dormir com seu bebê vai torná-lo menos
independente, mais carente, e assim meio que inútil para o restante da
vida. Afinal, nós todos queremos que nossos filhos saiam para enfrentar o
mundo, e se você tem uma criança que é muito ligada ao pai ou à mãe,
como ela poderá ser um indivíduo com personalidade própria? E
compartilhar a cama é visto como uma das coisas que tornará a criança
dependente da mamã e do papai para sempre. Certo? Bem, se existissem
evidências de que esse é realmente o caso, eu não estaria escrevendo
esse artigo agora, estaria? Não, e na verdade parece que é justamente o
contrário do que muita gente acredita.
Aqui vamos nós… Crianças que dormem em cama/quarto compartilhado tendem a
ser – veja só – MENOS medrosas e MAIS independentes do que aquelas que
dormem sozinhas. Por alguma razão, as pessoas começaram a acreditar que
os bebês precisavam ser mais independentes, e que aprender a dormir
sozinhos desde o primeiro dia de nascidos seria uma forma de fazer isso.
Primeiramente, é uma besteira enorme dizer que os bebês precisam ser independentes
– eles não podem ser, afinal, são bebês! Eles sequer sabem que existem
até completarem um aninho de vida ou mais, então como podem ser
independentes antes disso? Contudo, conforme as crianças crescem, elas
se tornam (felizmente) mais independentes, e nessa fase são as crianças
que dormiram com os pais (ou continuam dormindo) e receberam toneladas
de carinho e contato corporal que se mostram as mais destemidas,
enquanto as que foram deixadas sozinhas para serem "independentes"
enquanto bebês tendem a ser mais tímidas, ansiosas e amedrontadas. (Eu
adoro ter uma parte de mim que ama esse paradoxo porque é completamente
intuitivo quando você pensa pelo ponto de vista de um bebê. É exatamente
o que a maioria das pessoas não fazem – elas pensam nos bebês como se
fossem adultos, com pensamentos e crenças de adultos, apenas em uma
escala menor.)
Parte da explicação desse paradoxo vem do apego – bebês que dormem
com os pais tendem a ser mais apegados às mães, e pesquisas mostraram
que crianças que são mais apegadas exploram mais e são mais
independentes que aquelas que não têm apego com os pais. Bem, é
importante notar que pode ser que os pais façam cama/quarto
compartilhado por serem mais responsivos aos filhos, e não seja o fato
de dormir com o bebê em si que o torne mais apegado/independente.
Contudo, existem outros motivos para se acreditar que esse arranjo para
dormir promova sim independência.
Tudo gira em torno dos
hormônios. Como um dos milhares de apontamentos do Dr. Sears, a hora de
dormir à noite é um dos momentos mais estressantes para um bebê. A
escuridão e o silêncio da casa são na verdade bastante assustadores para
crianças novas, que foram acostumadas com som estático constante dentro
do útero (por exemplo as batidas do coração da mamãe) e a sensação de
estar sendo mantido apertado, segurado forte. Assim, ser colocado longe
de outras pessoas (e sem contato humano) aumenta a resposta ao estresse
nessas crianças. O contato entre mãe e bebê a qualquer momento do dia
reduz o estresse do pequeno através da liberação de ocitocina, um
hormônio que é conhecido por promover contato e comportamento amoroso
(também conhecido como hormônio do "aconchego"), especialmente quando há
contato pele a pele (ex., Uvnas Moberg, 2003). Dormir com o bebê
também diminui no corpinho dele os níveis do hormônio do estresse
chamado cortisol (Waynforth, 2007). Então, ao fazer cama/quarto
compartilhado você dá ao seu bebê uma carga de hormônios que lhe trarão
prazer e são relacionados a ligações afetivas maiores, bem como à
redução dos hormônios associados ao estresse.
Mas aí você vai me perguntar: como esses hormônios contribuem para a
independência? Pense em você mesmo e em suas reações a várias situações.
Todos já tivemos dias em que estávamos super estressados, quase
arrancando nossos próprios cabelos. Nesses dias, quão disposto você
estava para sair e explorar novos lugares, conhecer pessoas novas,
tentar coisas diferentes? Se você estiver no grupo chamado "normal" e
está sendo honesto, provavelmente vai dizer "Nem um pouco." Ao invés
disso, você pediria uma taça (ou garrafa) de vinho em um lugar seguro,
aconchegante, longe das pessoas ou locais potencialmente estressantes,
pois evitar o estresse é parte da nossa reação – enfiar a cabeça num
buraco e esperar que o que estiver te estressando desapareça. Isso é
devido ao fato de que o estresse tem relação com o medo, e dessa forma
ambos ativam a resposta de "lutar ou fugir", ainda que em diferentes
níveis de intensidade. Logo, um bebê que está constantemente sob
estresse tende a procurar lugares seguros e permanecer por lá. Assim
como nós adultos fazemos. Agora lembre-se de momentos em que você estava
feliz, relaxado e calmo. Durante esses momentos da sua vida você
procura fazer coisas novas? Conhecer gente diferente? Ir a outros
lugares? Sim, porque esse é o estado de espírito do qual necessitamos
para sair e explorar o mundo. Então um bebê que tem níveis mais baixos
de cortisol e mais altos de ocitocina, tende a estar mais disposto a
conhecer o mundo frequentemente.
Outra razão que associa a cama/quarto compartilhado a independência é
que dormir perto do seu bebê gera uma sensação de segurança devido à
resposta imediata durante períodos críticos. Todos os recém-nascidos
possuem o reflexo de moro, que o faz se assustarem e costuma ocorrer
enquanto dormem. (Para aqueles que não têm mais um recém nascido, até os
3 meses de idade, enquanto dorme, os braços e pernas do seu bebê tremem
como se ele estivesse caindo. Esse é o reflexo de moro). Se a sua
criança estiver no colo de um adulto ou estiver por perto (como em um
berço grudado à sua cama, com a grade lateral abaixada), é muito mais
fácil controlar o reflexo e acalmá-lo antes que acorde e entre em
pânico. Contudo, se você não estiver segurando o bebê, o reflexo de moro
vai acordar seu bebê em pânico. O cortisol estará então circulando pela
sua corrente sanguínea e vai demorar bem mais tempo até você conseguir
acalmá-lo. Muitos pais passam por isso quando são acordados por um bebê
que está gritando. Quando isso acontece, o que o bebê aprende a partir
dessa experiência? Que o mundo não é um lugar seguro e que deve estar
sempre alerta. Quando seus níveis de estresse estão constantemente
altos, você aprende a estar mais vigilante para conseguir manter-se
longe de perigos em potencial. Honestamente, eu me surpreendo com o fato
de tais crianças não estarem clamando para voltar ao útero, após essas
boas-vindas ao mundo.
Os bebês que dormem com seus pais aprendem algo bem diferente. Como eles
são imediatamente tocados e confortados quando passam por esse reflexo
de moro (e muitas vezes nem chegam a acordar), eles aprendem que o mundo
é seguro para eles. Alguém estará por perto para socorrer quando
precisarem de ajuda. Quando você sabe que tem uma rede de proteção, é
muito mais fácil tentar andar na corda bamba do que se você não soubesse
se iria ser amparado ou não no caso de uma queda. E uma vez que você
começa a acreditar que há uma rede de proteção (chamada mamãe e papai),
você se torna mais propenso a se arriscar e tentar coisas novas. Então,
através da cama/quarto compartilhado você está oferecendo ao seu filho a
base para um forte senso de segurança e sensações duradouras de
conforto e proteção. Você está também alterando o balanço hormonal para
melhor – reduzindo hormônios negativos (cortisol, por exemplo) e
promovendo os positivos (oxitocina, por exemplo). E para culminar, você
está aumentando as chances de seu filho ter uma ligação estreita com
você, o que traz uma enorme variedade de resultados futuros
maravilhosos. Eu acho que isso explica porque evoluímos para a
cama/quarto compartilhado. [1].
Então quando você pensar em como você quer que seu filho seja criado e
que tipo de pessoa você quer que ele seja – extrovertido ou inibido?
Aventureiro ou tímido? Medroso ou corajoso? – pense a respeito do que
você está ensinando a respeito do mundo através de suas ações frente ao
bebê. E saiba que uma forma de dar à criança uma base sólida é dormir
junto dela ou dele – seu filho vai agradecer a longo prazo.
[1]
Existem regras a respeito de como fazer a cama/quarto compartilhado com
segurança. Leia o artigo a respeito disso se você quiser saber mais,
pois existem algumas coisas que podem tornar o ato de dormir com o bebê
algo perigoso. Como você vai perceber, algumas dessas coisas (estar
bêbado, por exemplo) são bem óbvias e nem precisariam ser ditas, mas
existem outras com as quais você vai ficar surpreso.
https://www.facebook.com/notes/solu%C3%A7%C3%B5es-para-noites-sem-choro/normas-gerais-de-seguran%C3%A7a-da-cama-compartilhada/301069299917486