Mostrando postagens com marcador estresse. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador estresse. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 16 de julho de 2015

As mulheres podem amamentar - como as mudanças culturais as fizeram duvidar disso

Por Fernanda Rezende Silva
Revisão: Juliana Gieppner, Gabriela Silva e Luciana Freitas


Era uma vez um país chamado ABC onde as mulheres amamentavam seus bebês com naturalidade - elas não se sentiam constrangidas por amamentar em público, mesmo se fosse um bebê grande ou uma criança, pois todas faziam isso. Era comum ver crianças de 7 anos que ainda mamavam e ninguém via problemas nisso.

Para amamentar as mães não precisavam de relógios, regras ou artefatos - davam o peito sempre que estavam com seus filhos e eles pediam, e isso não era motivo para se sentirem presas ou cansadas (1). Elas acreditavam no poder do próprio leite pois praticamente todas as mulheres próximas amamentaram, então elas sabiam que não ser capaz de amamentar era algo tão raro quanto uma criança nascer sem um dedo, por exemplo.

Quando uma mulher engravidava ela já tinha a experiência de ter visto outras mães amamentando e já tinha aprendido também, pelo exemplo, que um recém-nascido depende 100% da mãe, então logo se formava sua rede de apoio para o puerpério. Estar com o bebê sempre no colo e dormir junto com o bebê (2) eram coisas tão naturais quanto a própria amamentação.

Num certo dia chega neste país a notícia sobre um artefato que prometia acabar com o choro dos bebês instantaneamente, mesmo sem a mãe do bebê por perto. Diziam que o tal artefato já era usado no "estrangeiro" com sucesso - parecia ser algo tão inovador quanto a televisão ou a internet. Tanta propaganda fez com que vários pais e mães resolvessem testar o objeto, com o inocente pensamento "se for ruim a gente para".

No "estrangeiro" já havia indústrias lucrando com as vendas do artefato, mas elas queriam mais: o departamento de marketing estava encarregado de convencer mais pessoas a usarem o produto e para cumprir esta meta criaram dois mitos, que alavancaram as vendas: chupar chupeta é melhor que chupar dedo (3); bebê que usa chupeta fica menos grudado na mãe e cresce mais "independente".

Durante alguns meses parecia estar tudo bem lá no país ABC, o país do início do texto, mas depois de um tempo já se percebia que a maioria dos bebês haviam desmamado precocemente (antes de 2 anos) (5, 6). Estes bebês pararam de mamar no peito mas continuaram precisando de leite, o que fez aumentar o uso (e as vendas) de mamadeiras.

Algumas pessoas desconfiaram que chupetas e mamadeiras fossem culpadas pelos desmames, mas o efeito nem sempre era imediato, então a maioria das pessoas não fazia essa associação - logo começaram a culpar as mães e duvidar da capacidade delas de produzir leite. As pessoas não tinham explicação para o novo fenômeno "desmame precoce", então quando um bebê desaprendia a mamar no peito diziam que o leite da mãe tinha secado (7) e inventavam as mais fantasiosas histórias para justificar isso, por exemplo: bebê arrotou no peito e isso fez o leite secar, a mãe voltou a menstruar por isso o leite secou, a mãe ficou sem leite porque passou uma grande tristeza (8).

Conforme o tempo foi passando as mães já não tinham muitos exemplos de mulheres próximas que amamentaram e isso fez surgir um novo problema: pega errada (9). Elas colocavam seus bebês para mamar no peito como se fossem tomar mamadeira, os bebês não conseguiam abocanhar corretamente o peito, o uso de chupetas fazia a pega piorar muito, os seios feriam e muitas desistiam pensando "amamentar é muito doloroso, difícil" - esta era a mensagem que infelizmente seria passada para as próximas gerações, tanto que algumas mulheres decidiam nem tentar e já levavam mamadeiras para a maternidade.

Junto com a imagem do "bebê independente" passaram também a vender a ideia de que bebês deveriam dormir em berços, mas para que esta indústria tivesse sucesso também precisavam de um bom argumento, então mais um mito foi criado: dormir com os pais é perigoso, todos os bebês devem dormir em berços (hoje sabemos que é uma ideia tão sensacionalista quanto dizer "uma criança morreu afogada numa piscina, então nenhuma criança deveria entrar em piscinas") (10). E mais um mito colaborou com as vendas de berços: se a mãe amamenta deitada causa otite no bebê (11).

As indústrias estavam rindo à toa, mas não contavam com um detalhe: a fisiologia da raça humana não mudaria tanto em tão pouco tempo, o que significa que os bebês não aceitaram facilmente este novo cenário: eles precisavam estar com suas mães, dormir com elas, mamar também de madrugada (12). Como as mães já não podiam dormir com seus bebês, ficavam extremamente cansadas, ansiavam pelo dia em que seus filhos dormiriam a noite toda (13), e isso criou mercado para "especialistas" do sono - muitas técnicas foram inventadas para tentar enquadrar os bebês que resistiam a toda essa "modernidade". E como estas técnicas poderiam atrapalhar ainda mais a amamentação? Uma delas se baseava no mito de que bebê novinho só chora por fome. Já não havia muitos exemplos de bebês amamentados, então também se perderam as referências sobre os motivos do choro - cada vez que o bebê chorava aparecia uma "boa alma" para dizer: "você tem pouco leite", "seu leite é fraco" (14). O mito do leite fraco surgiu com força total, daí veio a ideia "empanturre esse bebê com leite artificial para ele não acordar à noite". Durante alguns meses a técnica funcionava - o bebê ia dormir realmente empanturrado (como um adulto ao comer uma feijoada) e aí o bebê não acordava nem quando precisava (ex.: apneia em bebê empanturrado pode ser fatal).

Neste ponto da história a inversão já estava feita: as pessoas passaram a considerar normal o comportamento dos bebês de mamadeira, e não o dos bebês de peito. Ficavam com dó do bebê se uma mãe dizia que o bebê não pegou chupeta. Achavam estranho ver crianças com mais de um ano mamando, e aí as mães dos bravos bebês que faziam aniversário mamando se viam na obrigação de desmamar, pois "é feio amamentar bebê grande", "precisa ficar independente", "leite materno vira água depois de um ano" (15). Ah, essa do leite virar água é um mito descarado - as mães passaram a acreditar que mais cedo ou mais tarde todo bebê tomaria mamadeira - êxtase para a indústria de leite artificial. Surgiu a cárie de mamadeira, e junto com ela o mito da cárie do leite materno (16), pois as pessoas passaram a colocar tudo no mesmo bolo, assim como fizeram ao criar a nova regra "todo bebê precisa arrotar depois de mamar": quando se toma mamadeira entra ar, então precisa sim arrotar, mas mamando no peito com a pega correta isso não acontece, por isso essa história do arroto é mais um mito e só fez aumentar o cansaço das mães que tentavam amamentar.

Chegamos no ponto mais triste da história: a grande maioria dos bebês usavam chupeta e mamadeira e desmamavam "sozinhos" por volta de 3 meses. A imagem de um bebê maior mamando no peito passou a ser associada a pobreza (coitada dessa mãe, não pode comprar leite). Apenas 10% dos bebês chegavam a 6 meses com amamentação exclusiva e os efeitos disso eram notáveis: crianças adoecendo com frequência, aumento da mortalidade. Problemas respiratórios passaram a ser considerados "normais", assim como o uso de aparelhos ortodônticos - as pessoas chegavam a dizer "ah, hoje em dia todo mundo usa aparelho, né", sem pararem para pensar que até algumas décadas atrás estes problemas não eram comuns.

É possível reverter este cenário? Será que nos dias de hoje, com a maioria das mães trabalhando fora, é possível amamentar como no início do texto? É possível sim, e este resgate da amamentação já está começando. Vamos quebrar mais um mito? Segundo Gonzalez a média de duração da amamentação é maior entre as mães que trabalham fora do que entre as mães que passam o dia todo com seus filhos (17). Será que é porque as mães que trabalham fora sentem saudades de seus filhos e resistem mais ao desmame? Talvez seja, mas o detalhe mais importante desta pesquisa é comprovar que é possível sim continuar amamentando mesmo trabalhando fora, e se há mulheres seguindo este caminho então podemos afirmar que o resgate da amamentação já começou.

Referências:
1 - Livre Demanda - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/livre-demanda-o-que-e-realmente-dr.html
2 - Eu deveria deixar meu bebê dormir comigo? http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/03/eu-deveria-deixar-meu-bebe-dormir-comigo.html
3 - Se o bebê está chupando o dedo, o que ele pode estar querendo dizer? http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/01/se-o-bebe-esta-chupando-o-dedo-o-que.html
4 - Cama ou quarto compartilhado: promovendo a independência
http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/07/cama-ou-quarto-compartilhado-promovendo.html
5 - O que acontece com os músculos bucais quando um bebê usa qualquer bico artificial (chupetas, mamadeiras, bicos de silicone) - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/03/o-que-acontece-com-os-musculos-bucais.html
6 - A CHUPETA: O que toda mãe (e pai) deveria saber antes de oferecer uma chupeta para o seu bebê - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/a-chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html
7 - Mamadeira contém “substância” que seca o leite materno - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/mamadeira-contem-substancia-que-seca-o.html
8 - Passei por uma situação de estresse e meu leite acabou!
http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/passei-por-uma-situacao-de-estresse-e.html
9 - A importância da correção da pega - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/a-importancia-da-correcao-da-pega.html
10 - Normas gerais de segurança da cama compartilhada - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/normas-gerais-de-seguranca-da-cama.html
11 - Pode amamentar deitada? http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/pode-amamentar-deitada.html
12 - Porque a amamentação noturna é tão importante - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/porque-amamentacao-noturna-e-tao.html
13 - 8 fatos sobre o sono dos bebês que todo pai e toda mãe deveriam saber - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/08/8-fatos-sobre-o-sono-dos-bebes-que-todo.html
14 - Você está amamentando e seu peito está sempre murcho? Que maravilha!!! http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/09/voce-esta-amamentando-e-seu-peito-esta.html
15 - Como o leite materno vira água e a vaca passa a fazer melhor leite que o seu - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/07/como-o-leite-materno-vira-agua-e-vaca.html
16 - Cáries e Leite Materno - http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/06/leite-materno-nao-causa-caries.html
17 - Trabalho e Amamentação, página 112 do livro "Manual Prático de Aleitamento Materno", Dr. Carlos Gonzalez

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cama ou quarto compartilhado: promovendo a independência

Link para o texto original em inglês: http://www.evolutionaryparenting.com/?p=63
Tradução: Gabriela de O. M. da Silva

Não é segredo que sou uma GRANDE fã da cama compartilhada. Além da amamentação, eu acho que é a melhor coisa que você pode fazer pelo seu bebê. E ainda assim, quando você comenta com alguém a respeito de fazer essa prática, sobrancelhas se levantam mais rápido do que com uso de Botox.

Geralmente as pessoas começam com um olhar de espanto e logo perguntam quando você pensa em parar com isso, como se fosse um hábito desagradável, comparável a fumar ou deixar sua criança fazer xixi no chão. Se você questionar essas pessoas a respeito de porquê pensam que é um hábito nocivo, na maioria das vezes é devido ao fato de acreditarem que dormir com seu bebê vai torná-lo menos independente, mais carente, e assim meio que inútil para o restante da vida. Afinal, nós todos queremos que nossos filhos saiam para enfrentar o mundo, e se você tem uma criança que é muito ligada ao pai ou à mãe, como ela poderá ser um indivíduo com personalidade própria? E compartilhar a cama é visto como uma das coisas que tornará a criança dependente da mamã e do papai para sempre. Certo? Bem, se existissem evidências de que esse é realmente o caso, eu não estaria escrevendo esse artigo agora, estaria? Não, e na verdade parece que é justamente o contrário do que muita gente acredita.

Aqui vamos nós… Crianças que dormem em cama/quarto compartilhado tendem a ser – veja só – MENOS medrosas e MAIS independentes do que aquelas que dormem sozinhas. Por alguma razão, as pessoas começaram a acreditar que os bebês precisavam ser mais independentes, e que aprender a dormir sozinhos desde o primeiro dia de nascidos seria uma forma de fazer isso. Primeiramente, é uma besteira enorme dizer que os bebês precisam ser independentes – eles não podem ser, afinal, são bebês! Eles sequer sabem que existem até completarem um aninho de vida ou mais, então como podem ser independentes antes disso?  Contudo, conforme as crianças crescem, elas se tornam (felizmente) mais independentes, e nessa fase são as crianças que dormiram com os pais (ou continuam dormindo) e receberam toneladas de carinho e contato corporal que se mostram as mais destemidas, enquanto as que foram deixadas sozinhas para serem "independentes" enquanto bebês tendem a ser mais tímidas, ansiosas e amedrontadas. (Eu adoro ter uma parte de mim que ama esse paradoxo porque é completamente intuitivo quando você pensa pelo ponto de vista de um bebê. É exatamente o que a maioria das pessoas não fazem – elas pensam nos bebês como se fossem adultos, com pensamentos e crenças de adultos, apenas em uma escala menor.)

Parte da explicação desse paradoxo vem do apego – bebês que dormem com os pais tendem a ser mais apegados às mães, e pesquisas mostraram que crianças que são mais apegadas exploram mais e são mais independentes que aquelas que não têm apego com os pais. Bem, é importante notar que pode ser que os pais façam cama/quarto compartilhado por serem mais responsivos aos filhos, e não seja o fato de dormir com o bebê em si que o torne mais apegado/independente. Contudo, existem outros motivos para se acreditar que esse arranjo para dormir promova sim independência.
Tudo gira em torno dos hormônios. Como um dos milhares de apontamentos do Dr. Sears, a hora de dormir à noite é um dos momentos mais estressantes para um bebê. A escuridão e o silêncio da casa são na verdade bastante assustadores para crianças novas, que foram acostumadas com som estático constante dentro do útero (por exemplo as batidas do coração da mamãe) e a sensação de estar sendo mantido apertado, segurado forte. Assim, ser colocado longe de outras pessoas (e sem contato humano) aumenta a resposta ao estresse nessas crianças. O contato entre mãe e bebê a qualquer momento do dia reduz o estresse do pequeno através da liberação de ocitocina, um hormônio que é conhecido por promover contato e comportamento amoroso (também conhecido como hormônio do "aconchego"), especialmente quando há contato pele a pele (ex., Uvnas Moberg, 2003).  Dormir com o bebê também diminui no corpinho dele os níveis do hormônio do estresse chamado cortisol (Waynforth, 2007).  Então, ao fazer cama/quarto compartilhado você dá ao seu bebê uma carga de hormônios que lhe trarão prazer e são relacionados a ligações afetivas maiores, bem como à redução dos hormônios associados ao estresse.

Mas aí você vai me perguntar: como esses hormônios contribuem para a independência? Pense em você mesmo e em suas reações a várias situações. Todos já tivemos dias em que estávamos super estressados, quase arrancando nossos próprios cabelos. Nesses dias, quão disposto você estava para sair e explorar novos lugares, conhecer pessoas novas, tentar coisas diferentes? Se você estiver no grupo chamado "normal" e está sendo honesto, provavelmente vai dizer "Nem um pouco." Ao invés disso, você pediria uma taça (ou garrafa) de vinho em um lugar seguro, aconchegante, longe das pessoas ou locais potencialmente estressantes, pois evitar o estresse é parte da nossa reação – enfiar a cabeça num buraco e esperar que o que estiver te estressando desapareça. Isso é devido ao fato de que o estresse tem relação com o medo, e dessa forma ambos ativam a resposta de "lutar ou fugir", ainda que em diferentes níveis de intensidade. Logo, um bebê que está constantemente sob estresse tende a procurar lugares seguros e permanecer por lá. Assim como nós adultos fazemos. Agora lembre-se de momentos em que você estava feliz, relaxado e calmo. Durante esses momentos da sua vida você procura fazer coisas novas? Conhecer gente diferente? Ir a outros lugares? Sim, porque esse é o estado de espírito do qual necessitamos para sair e explorar o mundo. Então um bebê que tem níveis mais baixos de cortisol e mais altos de ocitocina, tende a estar mais disposto a conhecer o mundo frequentemente.

Outra razão que associa a cama/quarto compartilhado a independência é que dormir perto do seu bebê gera uma sensação de segurança devido à resposta imediata durante períodos críticos. Todos os recém-nascidos possuem o reflexo de moro, que o faz se assustarem e costuma ocorrer enquanto dormem. (Para aqueles que não têm mais um recém nascido, até os 3 meses de idade, enquanto dorme, os braços e pernas do seu bebê tremem como se ele estivesse caindo. Esse é o reflexo de moro). Se a sua criança estiver no colo de um adulto ou estiver por perto (como em um berço grudado à sua cama, com a grade lateral abaixada), é muito mais fácil controlar o reflexo e acalmá-lo antes que acorde e entre em pânico. Contudo, se você não estiver segurando o bebê, o reflexo de moro vai acordar seu bebê em pânico. O cortisol estará então circulando pela sua corrente sanguínea e vai demorar bem mais tempo até você conseguir acalmá-lo. Muitos pais passam por isso quando são acordados por um bebê que está gritando. Quando isso acontece, o que o bebê aprende a partir dessa experiência? Que o mundo não é um lugar seguro e que deve estar sempre alerta. Quando seus níveis de estresse estão constantemente altos, você aprende a estar mais vigilante para conseguir manter-se longe de perigos em potencial. Honestamente, eu me surpreendo com o fato de tais crianças não estarem clamando para voltar ao útero, após essas boas-vindas ao mundo.

Os bebês que dormem com seus pais aprendem algo bem diferente. Como eles são imediatamente tocados e confortados quando passam por esse reflexo de moro (e muitas vezes nem chegam a acordar), eles aprendem que o mundo é seguro para eles. Alguém estará por perto para socorrer quando precisarem de ajuda. Quando você sabe que tem uma rede de proteção, é muito mais fácil tentar andar na corda bamba do que se você não soubesse se iria ser amparado ou não no caso de uma queda. E uma vez que você começa a acreditar que há uma rede de proteção (chamada mamãe e papai), você se torna mais propenso a se arriscar e tentar coisas novas. Então, através da cama/quarto compartilhado você está oferecendo ao seu filho a base para um forte senso de segurança e sensações duradouras de conforto e proteção. Você está também alterando o balanço hormonal para melhor – reduzindo hormônios negativos (cortisol, por exemplo) e promovendo os positivos (oxitocina, por exemplo). E para culminar, você está aumentando as chances de seu filho ter uma ligação estreita com você, o que traz uma enorme variedade de resultados futuros maravilhosos. Eu acho que isso explica porque evoluímos para a cama/quarto compartilhado. [1].

Então quando você pensar em como você quer que seu filho seja criado e que tipo de pessoa você quer que ele seja – extrovertido ou inibido? Aventureiro ou tímido? Medroso ou corajoso? – pense a respeito do que você está ensinando a respeito do mundo através de suas ações frente ao bebê. E saiba que uma forma de dar à criança uma base sólida é dormir junto dela ou dele – seu filho vai agradecer a longo prazo.

[1] Existem regras a respeito de como fazer a cama/quarto compartilhado com segurança. Leia o artigo a respeito disso se você quiser saber mais, pois existem algumas coisas que podem tornar o ato de dormir com o bebê algo perigoso. Como você vai perceber, algumas dessas coisas (estar bêbado, por exemplo) são bem óbvias e nem precisariam ser ditas, mas existem outras com as quais você vai ficar surpreso.

https://www.facebook.com/notes/solu%C3%A7%C3%B5es-para-noites-sem-choro/normas-gerais-de-seguran%C3%A7a-da-cama-compartilhada/301069299917486

segunda-feira, 30 de março de 2015

Tudo Sobre o Choro dos Bebês

De "Soluções para noites sem choro" - https://www.facebook.com/solucoes.noites.sem.choro?fref=ts

“Por que os bebês choram?

Há cerca de 1,5 milhões de anos, os ancestrais dos humanos caminharam em duas pernas pela primeira vez. Isso deixou os braços livres para realizar tarefas complexas e, com o tempo, a inteligência desenvolveu-se mais. A mudança para o bipedalismo significou que a pelve humana tornou-se mais estreita e, como as capacidades intelectuais aumentaram, o cérebro tornou-se maior. A solução evolucionária a respeito do parto foi fazer com que o bebê humano nascesse muito imaturo, porque de outra forma a cabeça grande não passaria pelo canal estreito da pelve materna. Esta imaturidade significa que os bebês humanos precisam completar grande parte do seu desenvolvimento fora do útero. Sigmund Freud estava certo quando disse que o bebê humano chega ao mundo “inacabado”. Você precisa pensar no seu recém-nascido como um “feto fora do útero”.

Sim, seu bebê é imaturo. Sim, ele é muito sensível. Sim, ele é muito vulnerável ao estresse.

Seu bebê vai chorar por muitas razões. Ele vai chorar porque está cansado ou faminto ou muito estimulado por demasiada distração dos adultos. Ele passa facilmente de um estado de medo do perigo ou choque – choque se o ambiente está muito claro, muito frio, muito quente, muito hostil, muito agitado. A amídala na parte inferior do cérebro, que funciona como um detector de provável perigo funciona perfeitamente a partir do nascimento.

Imagine o mundo do bebê. Como ele pode saber que aquele liquidificador barulhento não é um predador que virá atacá-lo? Como ele pode lidar com o estresse de ser despido e mergulhado na água quando você o coloca no banho?

A princípio, pode ser difícil descobrir o que o choro significa

Com o tempo, você será capaz de decifrar os choros cada vez com mais precisão. Você aprenderá, por exemplo, diferenciar um choro de fome de um choro de cansaço. Tendo dito isso, haverá ocasiões em que você não saberá o porquê do choro. Isso não importa. O que importa é que você acalme seu bebê e que você tenha consciência mental e emocional para ouvir o choro e considerar seriamente o pânico e a dor do seu filho.

Por quanto tempo esta choradeira persiste?

Os três primeiros meses são geralmente os piores. O choro costuma ter um pico quando o bebê está entre 3 e 6 semanas de vida e depois diminui por volta de 12 a 16 semanas. Sheila Kitzinger sugere que o choro diminui por volta dessa idade porque é quando os bebês são mais móveis e podem segurar objetos, brincar com eles, então eles não mais choram por tédio ou frustração.
  
Bebês mais velhos e crianças entre 18 meses a 4 anos ainda choram quando estão com frio, com fome, cansados, doentes, embora o choque neste mundo tenha dramaticamente diminuído. Mas eles são inundados de sentimentos novos. Eles sofrem com os episódios de pânico pela ansiedade de separação e tornam-se cada vez mais claros a respeito dos seus gostos e desgostos, sobre o que os amedronta e o que os desagrada. Na criança pré-verbal, o choro geralmente significa “não”. “Não, eu não quero que você me tire do seu colo, faz com que eu fique em pânico”. “Não, eu não quero ir no colo de um estranho, eu estava tão bem nos seus braços.” “Não, eu detesto como este casaco arranha minha pele”.

Toda esta resposta de pânico significa altos níveis de substâncias químicas inundando o cérebro do bebê

Estas substâncias químicas não são por si sós perigosas, mas é um caso diferente se elas permanecem circulantes no cérebro por períodos prolongados de crises de choro e ninguém considera seriamente o pânico do bebê e oferece-lhe conforto. Distanciar-se emocionalmente do estresse da criança, não importa o que dizem os livros sobre treinamento para o sono – ou até pior, responder com raiva ao choro do bebê (embora algumas vezes você sinta assim) – nunca é apropriado.

Choro Prolongado

Vamos deixar claro – não é o choro por si só que pode afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê. Não é. É o estresse prolongado, ignorado, não confortado. Então não estou defendendo que você corra para o seu filho assim que o lábio inferior comece a tremer ou após um curto protesto de choro que dura poucos minutos (talvez porque ele não tenha recebido sua bala favorita). O choro prolongado é aquele que qualquer pai e mãe sensíveis (ou qualquer pessoa que seja sensível à dor alheia) irá reconhecer como um pedido desesperado de ajuda. É o tipo de choro que dura e eventualmente pára quando a criança está completamente exausta e cai no sono ou, num estado de falta de esperança, deduz que a ajuda nunca chegará.

Se um bebê é deixado chorando com frequência, o sistema de resposta ao estresse no cérebro pode ser afetado para o resto da vida

Existem muitos estudos científicos em vários locais do mundo mostrando como estresse no início da vida pode resultar em mudanças negativas no cérebro do bebê. Uma criança que é abandonada chorando por longos períodos pode desenvolver um sistema de resposta ao estresse que seja super sensível e que vai afetá-la para o resto da vida. Isso pode significar que muito frequentemente a percepção dela sobre o que está acontecendo à sua volta será permeada por um senso de ameaça e ansiedade, mesmo quando tudo está perfeitamente seguro.
  
Um bebê pode manipular ou controlar os pais através do choro?

Pais podem se perguntar se o bebê deles está usando o choro para manipulá-los, especialmente quando ouvem comentários dos seus amigos e parentes bem intencionados, como “Simplesmente o deixe chorar. Ele está tentando controlar você. Ceda agora e ficará arrependido depois.” Nós agora sabemos que isso é impreciso em termos neurobiológicos.
Para controlar um adulto, um bebê precisa do poder de pensamento claro e, para isso, ele precisa da substância química cerebral glutamato trabalhando bem nos seus lobos frontais. Mas o sistema de glutamato não está apropriadamente estabelecido no cérebro do bebê, então isso significa que ele não é capaz de pensar muito acerca de coisa nenhuma, que dirá manipular os pais.
Alguns pais ficam alheios à dor do filho, e escutam o choro como “é só um choro”. Isso pode ser resultado da forma como foram criados. Uma vez que ninguém respondeu quando eles eram bebês, eles são agora incapazes de sentir o desconforto do filho.

O que está acontecendo no cérebro do bebê?

Pais responsáveis nunca deixariam um bebê numa sala cheia de fumaças tóxicas que poderiam danificar o cérebro da criança. Ainda assim, muitos pais deixam seu bebê num estado de estresse prolongado, desassistido, desconhecendo que ele está sob risco de níveis tóxicos de substâncias químicas inundarem seu cérebro.
Gerações antigas deixavam o bebê chorando porque acreditavam que “exercitava os pulmões”, sem a menor ideia do quão vulnerável ao estresse é o cérebro de um bebê. Num bebê que chora, o hormônio do estresse cortisol é liberado pelas glândulas adrenais. Se a criança é confortada e acalmada, o nível de cortisol diminui novamente, mas se a criança é deixada chorando, o cortisol permanece alto. Isso é uma situação potencialmente perigosa, porque depois de um período prolongado, o cortisol pode atingir níveis tóxicos que podem danificar estruturas-chaves e sistemas no cérebro em desenvolvimento. O cortisol é uma substância química que pode permanecer no cérebro em altos níveis por horas e, em pessoas clinicamente deprimidas, por dias ou até semanas.”

Do livro The Science of Parenting, de Margot Sunderland, 2006.
Tradução de Flávia O. Mandic.

Leituras adicionais:

Sobre as substâncias químicas que inundam o cérebro do bebê em condições de choro e estresses prolongados
Estresse na infância - Choro excessivo no bebê e cortisol


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Passei por uma situação de estresse e meu leite acabou!

Por Luciana Freitas

Sempre ouvimos falar nisso, certo? Mas vamos refletir um pouco sobre essa situação?

Vamos imaginar a seguinte situação: estamos no tempo das cavernas; uma mãe está com seu bebê e, de repente, aparece um animal de 3 metros de altura e 2 toneladas; a mãe leva um susto enorme, estresse maior, impossível. O que você acha que aconteceu com ela? Acabou o leite? Então o filho dela vai morrer, né? Afinal, naquela época não havia fórmula...

Se fosse assim, não estaríamos aqui para contar essa história. Na verdade, sabe o que aconteceu? Com o estresse, ela teve uma descarga de adrenalina que fez com que a saída do leite parasse naquele momento, para que ela não estimulasse ainda mais o predador com o cheiro do seu leite, mas depois de algum tempo, cerca de uma hora, ela já tinha se tranquilizado, a adrenalina voltou aos seus níveis normais e o leite voltou a sair. Ela, então, continuou amamentando normalmente seu bebê, que se transformou num forte troglodita.

Moral da história: susto, estresse, nervoso, nada disso não afeta a produção de leite. Pode cortar a saída do leite momentaneamente, mas a produção, não. "Ah!!!!!" - você pode dizer: "Mas meu leite diminuiu mesmo!!" Claro, né? Nossa cabeça afeta toda a nossa vida, então se você acreditar nesse mito de que susto faz o leite secar, isso pode acabar acontecendo, pelo seu estado psicológico favorável a isso. Solução: não acredite no mito e confie que os milênios de vida humana na terra fizeram nosso corpo capaz de alimentar nossos bebês.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...