Mostrando postagens com marcador sucção. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sucção. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Bebê não faz o peito de chupeta

Por Luzinete R. C. Carvalho (Psicanalista)

Para adormecer, o bebê precisa estar relaxado, sentindo-se seguro e acolhido.
O ato de sugar proporciona grande parte das sensações agradáveis e a tranquilidade que o bebê precisa para atingir tal relaxamento e conseguir adormecer e para continuar dormindo.
Se o bebê ou criança usa chupeta, esta serve para saciar a necessidade de sucção para adormecer.
A chupeta também é usada para acalmar o bebê ou a criança em situações de nervoso, irritação, quando se machuca ou se assusta por qualquer motivo.
Percebam que é um gesto inconsciente este de oferecer a chupeta para o bebê que chora, que se machucou ou que está sonolento.
Não vejo ninguém criticando um bebê, que usa chupeta, por precisar usar sua chupeta para dormir.
Nunca vi ninguém dizendo que um bebê, que usa chupeta, não pode usar sua chupeta para fazer sua soneca.
É o contrário, geralmente justificam dizendo que a chupeta é "só para dormir".
Mas vai um bebê precisar do peito da sua mãe para conseguir adormecer...
Me contem, quantas vezes ouviram críticas a respeito de bebês que precisam do peito para dormir?
Ninguém diz que um bebê não pode recorrer a chupeta para dormir, mas dizem que um bebê não pode recorrer ao peito para dormir.
E então, em uma grande inversão de conceitos e valores, dizem que o bebê faz "o peito de chupeta".
Como se o peito tivesse a função limitada de apenas alimentar.
Desconsideram o papel que o peito tem para transmitir segurança, tranquilidade, aconchego e para relaxar e acalmar os bebês.
Não.
Nenhum bebê faz o "peito de chupeta".
A chupeta é que é introduzida para: conter, acalmar, relaxar, tranquilizar, auxiliar no processo de adormecer, etc.
Se a chupeta foi introduzida, por qualquer razão, e serve como "suporte" em todos esses casos, as pessoas só precisam saber que o peito essencialmente também serve para tudo isso.
Se a chupeta é socialmente aceita, com tanta passividade e displicência, para ser usada em todos esses casos, então é preciso aceitar que o peito da mãe pode, e deve, ser oferecido sempre que o bebê precisar ser acalmado, acolhido, adormecido.
O papel da amamentação vai para além de saciar a fome física.
A amamentação também é aporte psíquico, também sacia a fome emocional.
Este texto não é para falar sobre os males e os riscos de oferecer a chupeta, que existem e devem ser levados em conta individualmente por cada família.
Este texto não é para que ninguém precise justificar ou explicar o uso da chupeta.
Este texto é para que as mães que NÃO usam a chupeta, possam se sentir a vontade para continuar recorrendo ao peito, caso vejam utilidade e necessidade.
Este texto é apenas para dizer que é errado criticar uma mãe por permitir que seu bebê adormeça mamando.
É errado criticar uma mãe por permitir que seu bebê se recupere de uma queda mamando.
É errado criticar uma mãe por permitir que seu bebê se acalme mamando.
A chupeta é colocada na boca dos bebês e crianças em todas as situações citadas (e muitas outras) sem que ninguém se exaspere, afinal, é para isso que a chupeta serve.
O peito, antes da invenção da chupeta (sim, a chupeta foi inventada depois do peito), sempre serviu para saciar todas as necessidades físicas e emocionais de um bebê.
Antes de criticar a maneira como uma mãe conduz a amamentação do bebê DELA, reveja seus preconceitos, reflita sobre a sua própria ignorância a respeito da amamentação.
Antes de criticar a maneira como uma mãe conduz a amamentação, respire fundo 10 vezes, e não diga nada sem se informar melhor sobre o assunto, e tentar perceber se, por acaso, não são os seus conceitos que precisam mudar, expandir, melhorar...
Resumindo, era só para dizer que:
- Bebês possuem necessidades não nutritivas de sucção.
- Não é errado bebê recorrer ao peito para dormir.
- Não é errado bebê recorrer ao peito para se acalmar.
- Não é errado a mãe acolher, acalmar e adormecer seu bebê no peito, se ela puder e quiser.
- É muito errado criticar uma mãe por causa da maneira que ela escolheu manejar a amamentação.
- Sempre dá tempo de refletir e mudar preconceitos.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Meu bebê mama para dormir. Tenho dúvida se isso é correto.



O ato de sugar para se acalmar e dormir é algo tão natural e instintivo que o bebê o faz desde o útero, sugando o dedo. Alguns bebês são flagrados fazendo isso nas ecografias, mas isso não significa que os outros não façam o mesmo - todo bebê suga o dedo dentro da barriga.
Depois que nasce é natural o bebê sugar o peito para dormir - para o bebê é instintivo fazer isso, então ele pede peito quando está com sono e adormece sugando. E quando a mãe não estiver por perto, o que fazer? O bebê vai se acalmar e dormir sem peito e sem chupeta? 
Os bebês são capazes de adormecer de outra forma se a mãe não está perto - alguns adormecem com o balanço da rede ou carrinho, para outros basta cantar e fazer carinho, alguns são ninados no colo, outros descobrem o dedinho e passam a sugá-lo (e isso não é um problema - veja: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/01/se-o-bebe-esta-chupando-o-dedo-o-que.html) - o importante é que o bebê tenha confiança no cuidador e esteja acostumado com ele (fazer adaptação é muito importante - veja aqui: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/08/adaptacao-um-novo-cuidador-em-4-passos.html). É um erro pensar em dar chupeta, pois além de não ser necessário, a chupeta pode causar desmame e muitos outros problemas (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/a-chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html).
E se mesmo assim a mãe quiser que o bebê durma sem peito, até quando estiver com ela? Alguns bebês podem até aceitar isso, mas a maioria vai protestar, afinal o bebê não entende porque o peito está sendo negado. Se a mãe insiste o bebê chora desesperadamente, passa da hora de dormir, desregula as sonecas, entra em efeito vulcão (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2013/06/o-efeito-vulcao-pular-sonecas-produz.html), começa a pedir mais e mais peito e a mãe entra na neura do "leite fraco/pouco leite". Percebeu que isso não é uma boa ideia? Se a mãe simplesmente respeita a natureza ela tem um bebê descansado, feliz, que mama normalmente, e a mãe não duvida da sua capacidade de nutrir seu filho.
E até quando o bebê precisa do peito para dormir? Cada bebê tem o seu momento de conseguir dormir sozinho - sim, eles chegam nessa fase naturalmente - mas se a mãe está incomodada com este hábito ela pode fazer a Remoção Gentil a partir de 1 ano (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/04/quando-o-seu-bebe-acorda-frequentemente.html).
Muitas mães passaram por isso e conseguiram se ausentar sem precisar de chupeta - você não está sozinha. Neste vídeo a moderadora Gabriela Silva fala sobre volta ao trabalho, adaptação a um novo cuidador, como acalmar e fazer um bebê dormir sem chupeta:https://youtu.be/TGU7e7Z7lFc .

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Quem produz o leite materno - a mãe ou o bebê?

Por Fernanda Rezende Silva
Revisão: Luciana Freitas e Zioneth Garcia

O título deste texto pode parecer absurdo, mas não é. O bebê influencia sim, e muito, no processo de produção do leite materno. É ele quem comanda.
Vamos imaginar que o peito da mãe é uma máquina de produzir alimento, e o bebê é o operador desta máquina. Se o operador nem chegar perto da máquina é óbvio que ela permanecerá desligada e nenhum alimento será produzido, e o contrário também é verdadeiro, se o operador estiver em permanente contato com esta máquina, operando-a o tempo todo, muito alimento será produzido. Ok, esta parte não é novidade. Sabemos que quanto mais o bebê suga, mais leite é produzido,e que se o bebê não suga (ou suga errado) a produção de leite é comprometida, então vamos entender como funciona o processo (se você ainda não sabia que o leite materno é produzido enquanto o bebê mama então leia este texto: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/09/voce-esta-amamentando-e-seu-peito-esta.html).
O bebê nasceu com a missão de operar a máquina-peito, e esta operação não se resume a ligar/desligar, ele decide em que momento que tipo de alimento será produzido. Ele é um operador inteligente: pode enviar um comando do tipo "agora quero o alimento X", ou "chega de X, agora quero Y". Traduzindo isso: o bebê, por meio do tempo de mamada e de potência da sucção, “diz” ao corpo da mãe que agora ele quer um leite menos gorduroso, ou que quer o leite mais gorduroso. O leite vai aumentando sua quantidade de gorduras, então não existe um leite “fraco” e um leite “gordo”, é algo gradual . Alguns exemplos do que o bebê diria para a mãe:
- "Mamãe, já mamei 10 minutos de leite com menos gordura e matei a sede, agora quero mamar mais 20 minutos, então vai aumentando a gordura desse!".
- "Mamãe, não se assuste - dessa vez só quero matar a sede, não tenho fome - assim que eu tiver fome eu mamo mais e lhe peço um leite com mais gordura".
- "Mamãe, já estou tão craque que agora quero só 1 minuto de leite com menos gordura e nos 4 minutos seguintes, vai aumentando a gordura desse leite. Ah! Mamãe, agora consigo me satisfazer em apenas 5 minutos".
Sim, é o bebê que diz ao corpo da mãe que tipo de leite quer, quanto quer, em que momento quer, por isso a livre demanda verdadeira é tão importante (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/livre-demanda-o-que-e-realmente-dr.html). E como o bebê pode executar este processo mágico de ir mudando a gordura do leite no meio da mamada? Ele intensifica a mamada, fica mais tempo no peito… Um bebê saudável nasce pronto para operar a máquina-peito e, se ele não sofrer interferências externas ele vai executar este processo perfeitamente.
"Ah, mas meu bebê ganhou pouco peso neste mês". Porque isso nem sempre é um problema? O ganho de peso isoladamente não significa saúde
(http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2013/06/por-que-nao-tiramos-balanca-do-pedestal.html). Se um bebê saudável ganhou pouco peso em um mês específico mas cresce e se desenvolve bem então pode não haver motivo para preocupação, depende de cada caso - ele vai engordar conforme a sua necessidade.
"Mas meu bebê tem mamado horas seguidas, meu leite não satisfaz!". Hora de desfazer o mito "bebê só mama e dorme" e aprender um pouco sobre picos de crescimento e saltos de desenvolvimento. Peito não é só alimento - bebês novinhos querem mesmo grudar na mãe (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/o-conceito-do-continuum-importancia-da.html), e nos picos e saltos grudam mais ainda (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/pico-de-crescimento-e-salto-de.html).
O que poderia então atrapalhar o bebê a ponto dele não conseguir mamar bem? Existem alguns fatores como a prematuridade, por exemplo, que fazem com que o bebê tenha dificuldade para mamar (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/02/como-estimular-o-bebe-aprender-ou.html). Outro exemplo é a anquiloglossia: se o bebê tem o freio de língua curto então pode ser que ele não consiga executar perfeitamente todos os movimentos necessários com a boca e língua, e isso sim pode atrapalhar as mamadas e consequentemente a produção de leite (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/11/anquiloglossia-freio-de-lingua-curto.html).
Porque então tantas mulheres dizem "Não tive leite" ou "Meu leite secou", mesmo quando o bebê não tem nenhum problema para "operar a máquina"? Nesses casos o bebê nasce preparado para operar a máquina-peito, mas ele sofre interferências externas dos tais bicos artificiais (chupetas e mamadeiras). Imagine que o operador usa os 5 dedos da mão direita para executar o comando "produzir alimento X", mas aí ele começa a carregar um objeto com esta mão e passa a não dispor mais dos 5 dedos para esta ação (passa a fazê-lo só com 4 dedos) - ele sentirá cada vez mais dificuldade para fazer este movimento até que a tarefa se torne muito difícil e ele pode até desistir. Este texto explica o que acontece nestes casos: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2015/03/o-que-acontece-com-os-musculos-bucais.html.
Você já entendeu que quem produz leite materno não é a máquina-peito sozinha - o bebê é quem comanda o processo. Pois é, então isso também significa que não adianta NADA empanturrar a máquina com matéria-prima - o operador-bebê só vai pedir o alimento que ele realmente necessita. Algumas mães pensam que precisam comer muita comida calórica para ter o leite mais gorduroso e assim o bebê engordar melhor - isso não faz sentido, basta você lembrar que os bebês das africanas mal nutridas também engordam. Já vimos o caso de uma mãe que comia muita comida calórica enquanto a filha engordava no ritmo normal e esperado para o biotipo dela - o que esta mãe conseguiu foram 32 kg extras ao final da amamentação (ou seja, o que a mãe comeu a mais virou gordura no corpo dela, já que o bebê não requisitava esta gordura no leite materno).
A matéria-prima é importante, então a mãe deve se alimentar bem? Sim, a mãe deve se alimentar bem, mas sem neuras. Sabe a tal máquina-peito? Então, ela tem as receitas armazenadas, o que significa que seu resultado final varia muito pouco: a maior parte dos nutrientes do leite materno vem das reservas nutricionais da mãe (todos os seres humanos possuem reservas de nutrientes no corpo) então a mãe na verdade precisa se alimentar bem para repor estas reservas, e não para produzir leite de qualidade. Um exemplo: já foi comprovado que a mãe pode aumentar bastante o consumo de alimentos com ferro e mesmo assim o leite materno terá sempre a mesma quantidade de ferro, independente do que a mãe comeu. Se a mãe simplesmente não está comendo alimentos com ferro o leite também continua bom, mas este caso representa perigo de anemia para a mãe, por isso ela não pode fazer dietas malucas e precisa mesmo se alimentar bem.
Se o leite materno tem uma receita pronta, que praticamente não varia, e só se produz leite conforme o bebê solicita, faz sentido pensar que a mãe precisa beber X litros de água por dia, ou pensar que beber mais água ajuda a produzir mais leite? Não, isso também não faz sentido. Uma mulher que amamenta sentirá mais sede naturalmente, mas não precisa se obrigar a tomar vários litros de água por dia para garantir a produção de leite (http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/06/beber-muita-agua-para-ter-mais-leite.html). Lembra da receita do leite materno? Então, nela consta a proporção de água necessária para produzir leite - tudo que vier além disso será eliminado pelo corpo.Você estava aí se culpando porque não comeu o alimento X ou Y, pensando que seu leite não seria bom por causa disso? Pode desencanar - agora você já sabe que quem comanda a produção é o bebê e que todas as mulheres têm em seus corpos a receita do leite perfeito - nenhuma mulher precisa de canjica ou suco de uva para ter mais leite ou um leite de melhor qualidade.

quarta-feira, 18 de março de 2015

O que acontece com os músculos bucais quando um bebê usa qualquer bico artificial (chupetas, mamadeiras, bicos de silicone)

Por Fernanda Rezende Silva e Zioneth Garcia

Muitas pessoas não entendem porque a chupeta pode causar desmame, afinal chupeta não serve para alimentar o bebê como a mamadeira. Vamos fazer uma comparação para entender o que acontece nestes casos.
Imagine que você é um atleta que pratica o esporte EXP e você precisa malhar a panturrilha para conseguir o máximo de performance no seu esporte. Ok, você sabendo disso vai investir na malhação da panturrilha, mas num belo dia você pensa "vamos engrossar a coxa", aí você começa a malhar a coxa também. Deu certo, você não viu nenhum prejuízo imediato, aí você pensa "vou continuar". Não dá para dobrar o tempo de malhação (seria esforço demais) então ao aumentar o tempo da coxa automaticamente você diminui o da panturrilha. Nisso se passam algumas semanas e você está feliz malhando cada vez mais a coxa e menos a panturrilha. O problema é que depois desse tempo sua performance no esporte diminuiu - você começa a ficar preocupado, procura consultorias esportivas e ouve o que já sabia mas achava que não iria acontecer com você: "precisa malhar SÓ a panturrilha, investir todo seu esforço nela, senão os músculos dela vão perdendo a força e logo você não vai mais conseguir exercer o esporte EXP". 
Você resolve voltar a exercitar só a panturrilha, investindo todo o seu tempo de malhação nela e... Sente MUITA dor, afinal os músculos dela estavam sendo pouco exercitados. Você chora de dor, de arrependimento, e neste momento você precisa tomar uma decisão importante: vencer a dor, voltando a malhar a panturrilha com dedicação, ou desistir do seu esporte. Você que é adulto, consciente, pode se forçar a esse trabalho e tem chances de corrigir o problema - agora pense: e se fosse um bebê? 
O esporte descrito acima não existe, mas a situação pode acontecer: se você deixar de exercitar um músculo ele perde o tônus e aí quando for preciso usar este músculo novamente você pode ter dificuldade ou até mesmo sentir dor. A comparação que queremos fazer é com o uso por bebês de bicos artificiais (mamadeiras, chupetas e bicos de silicone) e a sucção do peito. Quando um bebê suga o peito da mãe ele está exercitando principalmente os músculos usados na mastigação, movimentando toda a mandíbula (imagine você pronunciando a sílaba AE - é este movimento que o bebê faz para sugar no peito). Quando um bebê suga bicos artificiais ele exercita os músculos usados ao assoviar - um grupo restrito que apenas consegue realizar um movimento curto (imagine você pronunciando a sílaba UI - é este movimento que o bebê faz para sugar bicos artificiais). Cada vez que o bebê suga um bico artificial ele está deixando de sugar o peito, ou seja, ele está investindo seu esforço de sucção nos músculos errados. Aos poucos o bebê começa a ter dificuldades em sugar o peito da mãe, porque os músculos envolvidos nesta tarefa estão caindo em desuso. Aí a mãe pensa: "mas eu continuei oferecendo o peito!". Ok, mas é claro que se o bebê usa qualquer outro bico ele passa menos tempo no peito do que deveria, e o estímulo dos músculos da sucção do peito vai diminuindo. Chega um momento em que o bebê começa a sugar o peito como se fosse a mamadeira/chupeta - ele pode até obter algum leite mas não faz uma mamada efetiva. Os músculos envolvidos na sucção do peito vão cada vez mais perdendo o tônus até que chega um momento em que mamar no peito se torna uma tarefa muito difícil - o bebê demonstra esta dificuldade rejeitando o seio.
Se entendemos esta questão dos músculos fica mais fácil compreender porque bebês que só usam chupeta (não usam mamadeira) também desmamam, ou seja, a chupeta sozinha é capaz de causar desmame, já que ela também provoca essa alteração de músculos trabalhados. Isso também explica porque mamadeiras não devem ser usadas nem para tomar água: o problema da mamadeira não é o conteúdo, é o tipo de sucção incorreto que ela provoca.
Ao entender que a alteração do tônus dos músculos é gradual também conseguimos entender porque a maioria dos desmames não acontece de um dia para o outro: os músculos vão perdendo o tônus devagar, não é de uma hora para o outra que um músculo perde a força a ponto de ser difícil utilizá-lo (pode levar meses) e é claro que muitos fatores influenciam a duração desse processo até chegar ao desmame (idade do bebê, tempo de uso de bicos artificiais, uso de mais de um tipo de bico, etc.).
Você pode estar se perguntando neste momento: se os músculos errados são exercitados e todo o corpo da criança está em formação então isso pode ter mais efeitos além da amamentação. Sim, a arcada dentária pode ser prejudicada, a fala e até a respiração - é aí que começam problemas como a respiração bucal, que só serão diagnosticados anos mais tarde, quando ninguém mais se lembra dos bicos artificiais.

Referência: 
- Pesquisa mostra que copo deve substituir mamadeira: https://www.facebook.com/notes/167481276637578/

domingo, 15 de março de 2015

Relactação passo-a-passo


1) Adquirir a sonda:

Compre em farmácia sonda nasográstrica número 4 ou 5 - às vezes só é encontrada em farmácias que vendem material hospitalar.
Compre várias sondas, pois pode ser melhor descartá-las após o uso já que é difícil lavá-las bem (mas é possível esterilizar em água fervente cada vez que for usada). Essas sondas nada mais são do que tubinhos fininhos.



2) Preparações:

Colocar o leite artificial no recipiente escolhido (seringa, copo ou mamadeira). 
Colocar uma ponta da sonda no recipiente e a outra deve ser presa ao seio, com sua extremidade perto do mamilo (pode usar esparadrapo, micropore). A ponta que fica no peito tem que ficar bem na aréola.
Tentar colocar o recipiente com o leite num local próximo e acima do nível do peito, para que a ação da gravidade facilite o fluxo do leite, e de preferência numa superfície firme para evitar que caia no chão. Nas primeiras tentativas vale a pena pedir ajuda de outra pessoa que segure o recipiente com o leite. 
É possível cortar a sonda em pedaços menores (10 cm) quando já estiver habituada, deixando o recipiente mais próximo do peito.


3) Iniciando: 

Coloque o bebê no seio para mamar. A criança sugará o peito e a sonda ao mesmo tempo e, à medida em que se alimenta, também estimula a produção do leite materno. A altura em que é colocado o leite e a força de sucção da criança determinam a velocidade de ingestão. O fluxo é controlado ao se dobrar um pouco a sonda. Desse modo o bebê começa a associar o peito com alimento e é estimulado a sugar o peito.
Se o bebê estiver recusando o seio, pingue leite sobre o seio para que ele queira sugar.



4) Quanto tempo preciso usar esse sistema?

O tempo para que a produção de leite seja estabelecida é de no mínimo uma semana, requer paciência e persistência para se obter sucesso. O leite ministrado pela sonda é o que a criança estava usando e, na medida do aumento de produção pela mãe, este é restringido progressivamente.

A relactação deve ter um começo e um fim, desde o primeiro dia que se começa deve se ter claro que não é para sempre, que num certo dia ela vai terminar. O recomendado geralmente é não estender a relactação por mais do que 6 semanas.



5) Que mais posso fazer para aumentar minha produção de leite?



- A sucção do bebê é a mais poderosa que existe, então amamente em livre demanda, mesmo sem a sonda, sempre que puder.

- Utilize uma bomba elétrica de boa qualidade e tente ordenhar seu leite também sempre que possível - isso ajuda a estimular a produção, mesmo se ainda não estiver saindo leite. A ordenha manual bem feita é igualmente eficiente. 

- Descarte o uso de qualquer bico artificial: mamadeiras, chupetas, bicos de silicone.

- Carregue seu bebê num sling, sempre que possível. Sentir o cheiro da mamãe acalma o bebê e o incentiva a sugar.

- Descanse quando puder, tire sonecas quando o bebê também o fizer. Durma perto de seu bebê (tomando precauções para prática da cama compartilhada): pesquisas mostram que cama familiar pode ajudar no estabelecimento da amamentação.


Vídeo explicativo: http://www.youtube.com/watch?v=p9-Y4A8lLNU

ATENÇÃO: A técnica de relactação é justamente para RE-lactar, usada quando a mãe deixou por qualquer motivo de oferecer seu peito ou em casos de mães adotivas que desejam amamentar.

RELACTAÇÃO NÃO É UM MÉTODO DE COMPLEMENTAÇÃO PARA SUBSTITUIR A MAMADEIRA. 

É importante que desde o começo o fluxo da sonda seja regulado, para que o bebê se acostume com o fluxo de LM (leite materno) do peito - nem toda sucção deve levar leite. 

A relactação sozinha não faz milagres, deve ser associada à livre demanda e auto-confiança. SE A MÃE PRODUZ QUALQUER QUANTIDADE DE LM A RELACTAÇÃO TEVE SUCESSO E NÃO É MAIS NECESSÁRIA: pode começar a diminuir o LA (leite artificial) usando copinho. 
Uma vez se consegue LM em volume aceitável o ideal é passar oferecer o complemento num copinho e deixar de usar a sonda. Lembre que existe sucção não alimentar, na sonda fica difícil saber até onde o bebê continua com fome e até onde está sugando por conforto.
Toda mamada deve começar e terminar pelo peito sozinho. Se o bebê adormece no peito, que seja no peito sem sonda.





domingo, 8 de fevereiro de 2015

Como estimular o bebê a aprender (ou reaprender) a mamar

Por Zioneth Garcia, Fernanda Rezende Silva, Marcos Mendes e Ana Beatriz Herreros

Existem várias situações nas quais um bebê pode precisar de ajuda para aprender (ou reaprender) a mamar no peito: logo que nasce, quando passa por períodos longos de internação sem a possibilidade de mamar e quando passa por confusão de bicos - para todas essas situações as técnicas descritas neste texto serão úteis.
É estranho pensar que um bebê que acabou de nascer possa precisar de ajuda para mamar, pois este ato deveria ser instintivo. Sim, mamar é instintivo, o bebê precisa mamar para sobreviver, mas mamar e estimular corretamente o seio é uma aprendizagem e esta pode levar mais tempo em alguns casos. Na prática isso não deveria ser um problema - é normal a dupla mãe/bebê demorar um pouco a se acertar - mas nós sabemos que existe uma expectativa muito grande para que este bebê ganhe peso logo, então, para tentar evitar a indicação precoce de LA, é uma boa ideia dar uma ajudinha para que o bebê fique logo craque na arte de mamar.
Algumas interferências sofridas no nascimento, que levam à separação do bebê de sua mãe, podem atrapalhar o instinto de sucção do recém nascido, por exemplo: prematuridade (mesmo tardia), hipoglicemia, desconforto respiratório, falta de preparo da equipe médica (que acaba separando mãe e filho sem necessidade). É importante ressaltar que mesmo em casos de cesárea, se o bebê se encontra saudável, o alojamento conjunto desde o momento do nascimento é um direito da dupla protegido por lei. O bebê pode e deve ser colocado no colo da mãe para ter seu primeiro contato físico e tentar mamar, ativando assim seus instintos de sucção inatos.
E porque falamos em reaprender a mamar? Porque as dificuldades enfrentadas desde o nascimento têm provocado desmames cada vez mais precoces, porém queremos que as mães saibam que é possível reverter o quadro na maioria das vezes. Muitos bebês passam por confusão de bicos o que os leva a desaprender a mamar no peito - eles se acostumam com o tipo de sucção da chupeta e/ou da mamadeira (e com o fluxo contínuo da mamadeira, que não é o mesmo do peito) e por isso têm dificuldade para mamar no seio - tentam fazer no peito o mesmo tipo de sucção da mamadeira/chupeta, mas a sucção/ordenha do peito é completamente diferente da sucção dos bicos artificiais (no peito o bebê ordenha o leite antes de mamar), por isso bebês em confusão de bicos estão desaprendendo a mamar: são incapazes de obter do seio da mãe o alimento e o conforto emocional que ele deve oferecer.
O que pode ser feito então quando um bebê precisa de ajuda para mamar? O primeiro passo é, sem dúvida eliminar os bicos artificiais. Não adianta nada tentar ensinar um bebê a mamar se ele continua usando chupeta e/ou mamadeira - isso só trará mais sofrimento para mãe e bebê. Se o bebê toma LA (leite artificial) este deve continuar a ser oferecido até sua mãe garantir a sucção eficiente do seio (que estimula a volta da produção de leite materno na quantidade que o bebê precisa), porém esse LA deve ser oferecido de outra forma (copinho, por exemplo).
O segundo passo é estimular o bebê a procurar o seio. A mãe pode ficar sem sutiã e sem blusa, deitada na cama, de forma confortável (por exemplo, apoiada em travesseiros) com o bebê deitado de bruços (só de fralda) sobre seu peito, perto do seu coração, acariciando-lhe as costas e conversando com ele, de forma que ele fique tranquilo, relaxado - assim ele terá estímulo para procurar o seio. Outra ideia é a mãe ficar sem blusa e sem sutiã e colocar o bebê só de fralda em um sling - ele ficará coladinho no corpo da mãe, sentindo seu cheiro - isso ajudará a estimular a vontade de mamar, e o livre acesso ao peito facilitará as tentativas do bebê. O contato pele a pele sempre acalma, fazendo disso uma rotina o bebê passará a associar o seio a essa sensação de calma e segurança.
Especialmente para casos de confusão de bicos, costuma funcionar: amamentar o bebê quando ele estiver sonolento, tomar banho de chuveiro com o bebê (e tentar amamentar o bebê no banho).
As dicas acima ajudam, mas sempre é melhor (e muito mais fácil) prevenir do que remediar: não tenha bicos artificiais em casa, não use nunca - esta atitude pode parecer difícil mas com certeza evitará problemas futuros.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Se o bebê está chupando o dedo, o que ele pode estar querendo dizer?

Uma abordagem ampla sobre a etiologia e prevenção do hábito de sucção digital baseada em evidências multidisciplinares.
Por Andréia Stankiewicz, cirurgiã-dentista, especialista em odontopediatria e ortopedia funcional dos maxilares. Dentista na clínica Vivavita – Odontologia & Saúde. Membro da ABONAM (Associação Brasileira de Odontologia Neonatal e Aleitamento Materno) e NEOM-RB (Núcleo de Estudos em Ortopedia dos Maxilares e Respirador Bucal). Moderadora do Grupo Virtual de Amamentação (GVA). Mãe da Luiza (4 anos) e do Pedro (2 anos). Pesquisadora, amante e praticante da maternidade ativa e consciente.
Publicado originalmente aqui.
- Eu sou normal!
Ainda durante a vida intra-uterina, instintivamente, o feto suga lábios, língua e dedos, de modo que estas funções encontram-se plenamente desenvolvidas ao nascer[1]. A sucção digital em fetos é considerada um reflexo necessário ao recém-nascido para sua sobrevivência.
Os hábitos bucais normais de fonação, mastigação, deglutição e sucção têm papel importante no crescimento crânio-facial e na fisiologia do sistema estomatognático. A sucção é considerada um reflexo inato, desenvolvido ainda no útero[2], e fundamental para a amamentação e para o desenvolvimento psicológico. Assim, esse reflexo torna-se importante para a instalação dos hábitos normais de um ser humano[3].
Sendo um reflexo, a sucção é involuntária e faz parte dos movimentos fetais e de recém-nascidos. Como o reflexo de preensão palmar desaparece a partir do terceiro ou quarto mês, o recém-nascido passa a ter movimentos voluntários, facilitando, portanto, a aquisição de um hábito com características voluntárias que pode persistir, ser modificado ou desaparecer[4].
A persistência da sucção de dedo não é freqüente em crianças bem amamentadas[5, 6]. Mais de 80% das crianças que recebem aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida não apresentam hábitos de sucção patológicos prolongados[7, 8].
Ao contrário da chupeta[9, 10, 11], o hábito de chupar o dedo não atrapalha a amamentação.
Muitos bebês que chupam o dedo dentro da barriga continuarão após o nascimento, embora não necessariamente[12]. E isto é normal, é fisiológico. A melhor forma de prevenir a transformação patológica deste tipo de hábito ao longo do tempo é através da amamentação.
- Eu consigo me acalmar sozinho!
Regular as emoções é uma tarefa complexa e difícil. Crianças levam tempo para desenvolver inteligência emocional, e esse aprendizado ocorre em diferentes épocas para diferentes tipos de regulação. Nesse meio tempo, a aprendizagem guiada orienta que os pais modelem o comportamento, respondendo às necessidades dos bebês, de forma que eles possam aprender a se auto-confortar.
Alguns pesquisadores acreditam que, quando os pais confortam seus bebês, eles estão modelando o comportamento que as crianças devem seguir para confortarem a si mesmas[13, 14]. De fato, eles argumentam que é assim que as crianças aprendem a se confortarem sozinhas de uma maneira saudável.
Bebês que chupam o dedo, todavia, já estão de certa forma regulando suas próprias emoções. Se tiverem pais responsivos, que os confortem e modelem apropriadamente o comportamento, ou seja, que se envolvam em práticas que promovem vínculos seguros, que respondam ao choro, e também que não impeçam nem substituam o hábito; então é muito provável que, com o tempo, eles desenvolvam mecanismos saudáveis para o mesmo fim (auto-conforto), não necessitando mais chupar o dedo.
Em contrapartida, pesquisas neurológicas[15, 16] sugerem que não atender às necessidades físicas e/ou afetivas do bebê ou deixá-lo chorando leva a falhas no desenvolvimento de técnicas saudáveis de regulação de emoções, o que pode servir de gatilho no sentido de promover a instalação de um hábito de sucção patológico.
- Estou com fome!
Levar os dedos ou mãos à boca é uma das formas do bebê indicar que está com fome e quer mamar. O choro é um sinal tardio, e acontece quando todos os demais sinais foram ignorados.

O aleitamento materno sob livre demanda deve ser encorajado, pois faz parte do comportamento normal do recém-nascido mamar com freqüência, sem regularidade quanto a horários. Aleitamento materno sem restrições diminui a perda de peso inicial do recém-nascido, favorece a recuperação mais rápida do peso de nascimento, promove uma “descida do leite” mais rápida, aumenta a duração do aleitamento materno, estabiliza os níveis de glicose do recém-nascido, diminui a incidência de hiperbilirrubinemia, previne ingurgitamento mamário[17] e satisfaz plenamente o impulso neural de sucção[18]. Inclusive o ato do bebê “chupetar” o peito após a mamada cumpre exatamente este papel (de saciar a necessidade neural de sucção), além de estimular a produção de leite; e por isso não deve ser desencorajado.
O tempo de permanência na mama em cada mamada também não deve ser estabelecido, uma vez que a habilidade do bebê em esvaziar a mama varia entre as crianças e, numa mesma criança, pode variar ao longo do dia dependendo das circunstâncias, e de acordo com a idade. É importante que a criança esvazie a mama, pois o leite do final da mamada – leite posterior – contém mais calorias e sacia a criança[19].
Os suplementos (água, chás, sucos, outros leites) devem ser evitados e o uso de chupetas/chucas/ mamadeiras também tem sido desaconselhado pela possibilidade de interferir com o aleitamento materno[17], além de trazer outros prejuízos ao desenvolvimento da criança.
Sabe-se que a necessidade neural de sucção e a fome fisiológica do bebê caminham em paralelo e que a única maneira de suprir a ambas, de forma plena, é através da amamentação. A ordenha do peito, em geral, é um processo demorado, ao passo que uma mamadeira pode ser esvaziada em menos de 5 minutos. A introdução de bicos artificiais gera um débito de sucção neural que frequentemente é compensado através da instalação de hábitos de sucção deletérios e indesejados[18].
- Meus dentes estão nascendo!
É comum que bebês amamentados com livre demanda aos 5 ou 6 meses comecem a sugar o dedo. Neste momento, em geral os dentes decíduos estão chegando e existe um grande desconforto dentro da boca.
As gengivas estão inchadas, coçam, a salivação está aumentada; ele deseja coçá-las, mas não tem coordenação para tanto. Seu dedo, entretanto, já conhece o caminho da boca (desde a vida intra-uterina). Nesse momento, entendendo que não se trata de impulso de sucção neural insatisfeito, mas da maturação neural da função seguinte – a mastigação -, o ideal seria oferecer-lhe, além de amor e atenção, um mordedor para superar o desconforto dessa fase e impedir o “reforço” de que dedo na boca é prazer, evitando assim a transformação em hábito[18].
A idade de erupção, na verdade, é bastante variável e muito individual (os dentes podem começar a irromper já nos primeiros meses após o nascimento, ou demorar seis, oito meses ou até mais para aparecerem). Da mesma forma, os bebês apresentam diferentes sintomas na dentição: alguns são pouco afetados, outros sofrem muito. A melhor maneira de consolar um bebê é dar-lhe muito amor – amamente com especial carinho[20].
- Estou descobrindo o mundo!
Durante esta fase do desenvolvimento classificada na psicologia como ‘fase oral’, o bebê leva tudo à boca, como forma de explorar e conhecer seu próprio corpo e o mundo que o cerca. O ser humano passa por diferentes etapas nesta construção, desde o chupar o polegar até elaborar pensamentos com diferentes estruturas[21].
O corpo é instrumento de comunicação e com ele é possível comunicar-se, desenvolver uma linguagem. É pelo corpo e através do corpo que o ser humano se comunica, recebe e envia mensagens e consegue ler o mundo.
O movimento ajuda a criança a construir conhecimento do mundo que a rodeia, pois é através das sensações e percepções que ela interage com o meio e aprende. Assim, brincando com seu corpo a criança vai construindo diferentes noções[22].
Um corpo organizado possibilita diversas formas de ação, sejam elas psicomotoras, emocionais, cognitivas ou sociais. Tanto chupar o dedo, que é natural nesta fase, como mamar, são, ao mesmo tempo, atos de prazer e de conhecimento[23].
O afeto, contido no desejo, manifestado pelo corpo, é determinante para a aprendizagem e não deve ser reprimido. “A criança aprende por experimentação, por experiências próprias. Aprender é aprender com o corpo, com a emoção. Do contrário essa criança vira um adulto desconectado do seu corpo e das suas emoções.” (Marcelo Michelshon, psicólogo)
Sucção é inata, é instintiva. É sinônimo de prazer, aprendizado e sobrevivência e perdura como necessidade vital durante um tempo prolongado. Esse período também é muito mais longo do que os adultos gostariam que fosse. É provável que o desenho original do ser humano tenha previsto uma amamentação e consequentemente necessidade de sucção mais prolongada, de três a cinco anos[24]. Estudos antropológicos sugerem que o período natural de amamentação para a espécie humana ficaria entre 2,5 e 7 anos[17]. A OMS recomenda amamentação exclusiva por 6 meses e complementada até os 2 anos ou mais. No segundo ano de vida, o leite materno continua sendo uma importante fonte de nutrientes, além de continuar conferindo proteção contra doenças infecciosas[17] e constituir a principal medida de prevenção contra o prolongamento patológico dos hábitos de sucção não nutritivos[18].
- Estou estressado (ou algo não vai bem…).
É consenso geral que aborrecimentos e traumas emocionais sofridos pela gestante ou pela mãe acarretam problemas ao desenvolvimento normal do bebê, como no caso de algumas situações resultantes de tensão emocional, que geram atividade motriz exagerada, permanecendo enquanto durar a tensão. Na relação da gestante com o feto, relata-se que o grau de aceitação da gravidez é fator bastante importante que, possivelmente, influencie o bebê na vida pré e pós-natal[25].
Quanto ao efeito dos problemas emocionais e/ou sistêmicos da gestante sobre o aparecimento dos sinais de sucção, estes foram observados em alguns bebês, ainda que os resultados não tenham sido significativos[26]. Da mesma forma, estados de satisfação com a gravidez (satisfeita/indiferente) também pareceu não interferir significativamente na sucção digital em fetos[26].
Contudo, mãe e bebê são seres fusionais (até cerca dos dois anos de idade), de forma que o bebê muitas vezes manifesta de diversas formas o inconsciente materno[24]. Por isso, é muito válido entender a situação emocional da mãe que está por trás das manifestações que tanto incomodam no bebê.
É preciso também levar em conta que o estresse, atualmente, deixou de ser reservado aos adultos. As crianças podem sentir-se sobrecarregadas desde muito cedo – complicações na gravidez, experiências traumáticas no parto, separação prolongada dos pais ao nascer, dificuldades na amamentação, amamentação com controle de horários, rotinas rígidas, pouco contato físico, treinamento precoce de sono (para dormir sozinho e/ou a noite inteira), ignorar/deixar chorar sem consolo, desmame precoce e/ou abrupto, introdução alimentar acelerada, ingresso precoce em creche/escolinhas, cuidados terceirizados, pressão para controlar os esfíncteres (desfralde precoce), nascimento de um irmão, mudanças, perdas, excesso de atividades, doenças físicas, emocionais – ansiedade, depressão, repressão, personalidade tímida, criação autoritária, etc…O cansaço extremo tem a capacidade de destruir o campo afetivo das crianças[24]. É presumível que uma criança pequena possa encontrar prazer autonomamente ao sugar, se suas necessidades, particularmente as afetivas, estão sendo negligenciadas.
A prática clínica também indica a possibilidade de relação entre o ato de chupar vigorosamente o dedo com causas orgânicas, como por exemplo, reação pós-vacinal e associado a quadros de irritabilidade gerados por alergia à proteína do leite de vaca (APLV), entre outras. Nestes casos, além das medidas preventivas básicas, é preciso buscar manejo/tratamento adequado para o problema que desencadeou o quadro.
Por tudo isso, é imprescindível discernir o hábito do dedo (quando patológico) com um olhar ampliado; não superficialmente, como um problema em si, mas como um potencial sinalizador de experiências negativas que a criança possa estar vivenciando/ou tenha em algum momento vivenciado. Simplesmente anular um sintoma (como o de chupar o dedo, por exemplo) não deveria jamais ser um objetivo[24]. Não sem antes entender seu significado, a raiz do problema, ou o que está sendo comunicado através dele.
Nunca se deve reprimir o hábito colocando luvas, pimenta ou outras substâncias de sabor e aroma fortes no dedo. Por ser extremamente sensível, o organismo infantil pode reagir muito mal ao que foi ingerido. Aliás, nenhuma atitude que possa agredir de qualquer forma a criança deve ser considerada. Ridicularizar, punir, envergonhar, chantagear e diminuir a criança, principalmente diante de outras pessoas, só aumenta a ansiedade, o que pode levar à piora do quadro. Ou ainda acabar desenvolvendo outros sintomas em substituição (angústias, terrores noturnos, choros desmedidos, doenças, apatia) – os quais podem ter sido gerados pelos adultos de forma não intencional, sem perceber.
Apoiar os filhos é entender e aceitar seus processos naturais de amadurecimento e crescimento, em seu tempo único[24]. Muitas vezes é necessário reajustar as próprias expectativas, adquirir conhecimento e segurança para lidar com as diferentes fases com naturalidade, a fim de se tornar capaz de oferecer a ajuda, o respeito, a segurança e o amor incondicional tão necessários para que as crianças cresçam com equilíbrio e superem qualquer problema/dificuldade.
- Eu não quero chupeta!
Ao contrário do que se costuma acreditar, os danos causados pela sucção prolongada de dedo e de chupeta podem ser bem semelhantes[27, 28], especialmente quando a criança não é suficientemente amamentada; o que, segundo dados do Ministério da Saúde, é muito comum no Brasil, já que a média de amamentação exclusiva é de 54 dias e apenas 10% das brasileiras conseguem amamentar exclusivamente até o sexto mês[29].
A sucção do dedo, contudo, tem como vantagem o fato de ser natural, intracorpórea, ter calor, odor e consistência mais parecidos com o mamilo além de ficar praticamente na mesma posição do bico do peito dentro da cavidade bucal. Durante a sucção do dedo, a língua vem para a frente, assim como na ordenha do peito materno e o padrão de respiração nasal é mantido[18]. A amamentação não é prejudicada. Por tudo isso, a orientação de substituir o dedo pela chupeta faz pouco sentido.
Dados epidemiológicos mostram que 10% das crianças chupam o dedo prolongadamente[7, 30], sendo frequente nestes casos a falta de amamentação ou o desmame precoce.
A crença popular dita que o hábito de sucção digital é mais difícil de ser descontinuado do que o da chupeta. Entretanto, dados de pesquisa demonstram que ambos, dedo e chupeta, na verdade, podem ser muito difíceis de serem superados pela criança. Em uma clínica de ortodontia, 92,3% das crianças apresentaram dificuldade de abandonar o dedo, enquanto outras 91% apresentaram a mesma dificuldade em relação à chupeta; uma diferença insignificante em termos estatísticos[31].
Segundo a visão autoritária dos adultos, é possível suprimir a chupeta. Mas essa atitude não leva a criança a se livrar de sua necessidade de sugar, ainda não superada. Cada etapa que é vivida plenamente termina plenamente e evolui para outros interesses.
Caso contrário, as necessidades não satisfeitas se deslocam e muitas vezes não se compreende a associação de causa e efeito. Por exemplo, vícios como o de fumar, a compulsão de comer, a dedicação insana ao trabalho ou os ciúmes desmedidos em certas relações afetivas à procura de prazer – sem, no entanto, conseguir encontrá-lo por meio dessa reparação ilusória, uma vez que se trata de uma transferência inconsciente e tardia de necessidades básicas que não foram satisfeitas. O fato de uma criança pequena sugar não apenas costuma ser normal, como esperado. É preciso se preocupar quando o hábito se torna patológico, impedindo a comunicação/interação social ou causando desequilíbrios sobre o desenvolvimento e doenças*. Nestes casos é importante intervir adequada e oportunamente. Simultaneamente, é imprescindível oferecer à criança presença, comunicação e diálogo para que ela adquira habilidades que a tornem capaz de superar as necessidades orais primárias[24].
A partir do exposto, conclui-se que orientação de substituir o dedo pela chupeta representa um grande equívoco. As evidências apontam que, em vez disso, os especialistas poderiam encarar o dedo com maior naturalidade e principalmente apoiar, promover e proteger o aleitamento materno pelo tempo que durar a necessidade oral da criança.
- Eu quero você!
Quando o abandono emocional é muito grande, advém a necessidade de procurar prazer solitariamente. Por isso nossos olhares devem se dirigir à necessidade original e não à maneira encontrada pela criança para aliviar suas dores, no caso, quando a sucção do dedo tende a se tornar patológica.
Em geral, os adultos têm sempre alguma coisa mais importante ou urgente para resolver; gostariam que a criança ficasse sozinha, mas sem chupar o dedo. Isso significa ficar duplamente sozinha. Quando a criança é tímida, precisa ainda mais da presença de um adulto que, com amor, volte a colocá-la no mundo do intercâmbio e da comunicação, da brincadeira e da fantasia criativa, e aí o hábito de sucção não nutritiva perde o seu valor.
Em relação à sucção digital, é, portanto, imprescindível avaliar se trata-se de uma condição normal, uma patologia ou, simplesmente, de uma criança que está sozinha e espera[24].
Acima de tudo, o bebê quer dizer:
- Papai/Mamãe, me aceitem como eu sou!
Sei que vocês criaram muitos planos e expectativas a meu respeito e podem estar se sentindo confusos e frustrados neste momento, com tantas orientações e opiniões contraditórias que circulam por aí. Mas se vocês estiverem ao meu lado, tentarem me entender, respeitarem essa minha fase e me derem muito amor – daquele jeito que eu entendo que sou amado e que só vocês são capazes de me amar – eu tenho certeza que superarei, no meu tempo, qualquer dificuldade ou fase. Eu sei que eu posso; confiem em mim. Eu confio em vocês!
Ass.: Bebê.
*P.S.: Nos casos de prolongamento patológico da sucção, a criança poderá necessitar de apoio especializado para conseguir superar o hábito. Quando existirem alterações de desenvolvimento oro-facial (anatômicas e/ou funcionais) e oclusal, o acompanhamento por dentista especialista em ortopedia funcional dos maxilares e fono especialista em motricidade oral é recomendável, bem como, provavelmente, um apoio psicológico especializado. A técnica do Mamilo[32], um acessório colocado em aparelhos ortopédicos mecânicos ou funcionais, ajuda a criança a satisfazer a necessidade residual neural de sucção, estressando o hábito (funciona como um estímulo de sucção alternativo ao natural, isto é, a amamentação no peito; e pode ser usado em fases bem precoces do desenvolvimento, a partir da confirmação da necessidade através de diagnóstico clínico apropriado). A resposta favorável do organismo na totalidade dos casos se deve à técnica atuar, não contra o hábito, e sim a favor da fisiologia, da biologia e da saúde da criança[18].
Leia mais sobre o Mamilo aqui
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1]Silva-Filho OG, Freitas SF, Cavassan AO. Hábitos de sucção – elementos passíveis de intervenção. Estomatologia e Cultura 1986;16:61–71.
[2]Estripeaut LE, Henriques JFC, Almeida RR. Hábito de sucção do polegar e má oclusão. Rev Odont Univ São Paulo1989;3:371–374.
[3]Finn SR. Odontologia pediátrica. 4ª ed. México: Interamericana, 1976;326–327.
[4]Grünspun H. Distúrbios neuróticos da criança. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1966;351–374.
[5]Planas, P. Reabilitação neuroclusal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1997.
[6]Massler, M. Oral Habits: development and management. J Ped, v.7, n.2, p.109-19, 1983.
[7]Serra Negra, J.M.C.; et al. Estudo da associação entre aleitamento, hábitos bucais e maloclusões. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 2, p. 79-86, 1997.
[8]Commeford, M. Suckling habits in the breast-feeding versus non breast-feeding child. J Res Orofacial Muscle Imbal, v. 88, p. 18-19, 1977.
[9]Victora, CG; et al. Pacifier use and short breastfeeding duration. Cause, consequence or coincidence. Pediatr, 99, 445-53, 1994.
[10]O’Connor, NR, et al. Pacifiers and breastfeeding: a systematic review. Arch Pediatr Adolesc Med. Apr;163(4):378-82; 2009.
[11]Victora, CG; et al. Use of pacifiers and breastfeeding duration. Lancet, 341:405, 1993.
[12]Tenório, M.D.H. et al. Sucção Digital: observação em ultra-sonografia e em recém-nascidos. Radiol Bras, v. 38, n. 6, 2005.
[13]Gottman JM, Katz LF, & Hooven C. Parental meta-emotion philosophy and the emotional life of families: Theoretical models and preliminary data. Journal of Family Psychology(1996); 10: 243-268.
[14]Thompson RA. Emotion regulation: A theme in search of definition. Monographs of the Society for Research in Child Development (1994); 59: 25-52.
[15]Gunnar, M. R. Social regulation of stress in early childhood. In K. McCartney & D. Phillips (Eds.), Blackwell Handbook of Early Childhood Development (pp. 106-125). Malden: Blackwell Publishing (2006).
[16]Stifter CA & Spinrad TL. The effect of excessive crying on the development of emotion regulation. Infancy (2002); 3: 133-152.
[17]Giugliani, ERJ. O aleitamento materno na prática clínica. Pediatr (Rio J) 2000;76(Supl.3):s238-s52
[18]Carvalho, G.D. SOS Respirador Bucal – Uma visão funcional e clínica da amamentação. Ed. Lovise, 2ª. Ed., São Paulo, 2010.

[19]Almeida, JAG. Composição e síntese do leite humano. In: Santos Jr., LA. A mama no ciclo gravídico-puerperal. São Paulo: Atheneu; 2000: 101-4.
[20]Romm, AJ. Cura natural para bebês e crianças. Sâo Paulo: Ed. Ground, 1999; p. 131-132.
[21]Lima, JS. A importância do brincar para as crianças de 3 a 4 anos na Educação Infantil. Monografia apresentada para conclusão de curso de pedagogia da Universidade Veiga de Almeida. Rio de Janeiro, 2006 (http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/edinf01.htm)
[22]Oliveira, GC. Educação e Reeducação. Petrópolis: Vozes, 1997; p.34.
[23]Fernandez, Alicia. A inteligência aprisionada: abordada psicopedagogia. Clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes médicas, 1990; p. 74.
[24]Gutman, L. A maternidade e o encontro com a própria sombra. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010.
[25]Coutinho MTC. A psicologia da criança da fase pré-natal aos 12 anos. 2ª ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1978;50–55.
[26]Tenório, M.D.H. et al. Sucção Digital: observação em ultra-sonografia e em recém-nascidos. Radiol Bras, v. 38, n. 6, 2005.
[27]Christensen, J., Fields, H. Hábitos bucais. In: PINKHAM, JR. Odontopediatria da Infância à Adolescência. 2ª. Ed. São Paulo: Artes Médicas, p. 400-7, 1996.
[28]Cunha, SR. et al. Hábitos bucais. In: CORRÊA, MSNP. Odontopediatria na primeira infância. 1ª. Ed. São Paulo: Santos, p. 561-75, 1998.
[29]Brum, K. http://vilamamifera.com/mamiferas/nao-precisamos-de-campanhas-para-aliviar-a-culpa-das-maes-que-nao-amamentam-ou-pariram/ (acessado em 26/04/2014).
[30]Silva Filho, O.G. et al. Hábitos de sucção e má oclusão: epidemiologia na dentadura decídua. Rev Clin Ortodon Dental Press, v. 2, n. 5, p. 57-74, 2003.
[31]Rosa, LPPB. Brancher, LM. Avaliação dos hábitos deletérios infanto-juvenis nos pacientes da Disciplina de Ortodontia e Ortopedia Clínica da FO-UFRGS. Trabalho de conclusão de graduação; 2009
[32]Carvalho, GD. et al. O uso do aparelho “Mamilo” para tratamento do hábito de sucção digital. RGO 48 (4): 207-214; 2000.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...